2018-04-30


25 DE ABRIL 2018 – CRONOLOGIA
Apareceu-me no “face”, na página dedicada a Almada Negreiros, uma nota sobre «100 anos de poesia» a assinalar na Academia das Ciências de Lisboa, de 7 de Maio a 6 de Junho. 


Interessante, talvez por isso e nos tempos que vão correndo, sob o signo dos ventos de liberdade, lembrar esta «LIBERDADE» de Almada Negreiros, nos 125 anos do seu nascimento, na Roça Saudade, em S. Tomé:
“LIBERDADE
Quando entrei na cidade fiquei sozinho no meio da multidão.
Em redor as portas estavam abertas. A multidão entrava naturalmente pelas portas abertas. Por cima das portas havia tabuletas onde estava colada aquela palavra que sobe – Liberdade!
Entrei por uma porta. Entrei como uma farpa!
Era uma ratoeira, Mãe! era uma ratoeira! Se eu tivesse entrado como uma agulha podia ter saído como uma agulha, mas entrei como uma farpa, fiz sangue verdadeiro, já não me esquece. Aconteceu exactamente. Dei um mau jeito nos rins por causa da ratoeira! Ainda me lembro da palavra – Liberdade!” (…)
         A liberdade, a responsabilidade e a ponderação – tudo isso na ideia do génio de Almada. E a mãe, sempre a Mãe com letra maiúscula, que ele perdeu tão cedo, ainda não tinha chegado o conhecimento. 



Fotografia: Filipe Amorim/Global Imagens 

E depois, como ontem havia chamado a atenção, a ponderação dos vários fatores que podem influenciar um simples jogo de futebol. Ainda faltam pontos para se ganhar o campeonato…mas já está instalada nos adeptos do FCP como que uma desmedida loucura. É a liberdade de uma falta de ponderação de quem tem estado afastado de títulos nos últimos anos. A reconquista da liberdade de festejar tal como em Abril, mesmo sem haver a certeza de que o golpe triunfara, seguindo-se a revolução.
Abril há de ser sempre…e eu aqui voltarei para escrever sobre valores.

António Bondoso
Jornalista
29 de Abril de 2018






2018-04-29

25 DE ABRIL 2018 – CRONOLOGIA
Já não bastavam as imagens do interrogatório a José Sócrates…apareceu agora em Macedo de Cavaleiros uma lista com nomes de devedores pelo consumo de água da rede pública. 



25 DE ABRIL 2018 – CRONOLOGIA
Já não bastavam as imagens do interrogatório a José Sócrates…apareceu agora em Macedo de Cavaleiros uma lista com nomes de devedores pelo consumo de água da rede pública. Penso não ser caso único ou pelo menos novidade esta história contada pelo JN. O golpe e a revolução de 1974 acabaram com a censura, mas 44 anos depois não deixa de ser censurável o abuso – ainda que rotulado desse vago e por vezes indecifrável “interesse público” – com que alguns avençados nos média exercem o que era suposto ser «jornalismo de investigação». O interesse deste desiderato está precisamente no facto de serem os jornalistas a conseguir «descobrir» os casos e não esperar que, por um milagroso expediente de tráfico de influências, lhes caia no computador um DVD com gravações que só à Justiça deviam dizer respeito. A investigação judiciária fez o seu trabalho, bem ou mal, acusou e agora seria altura de esperar pelo julgamento. Estará a «acusação do MP», por deficiência, necessitada de aproveitar a mais que certa condenação na praça pública?
Deontologicamente, e apesar de o respetivo Código ter sido ligeiramente alterado há pouco, é certo que «o jornalista deve combater a censura e o sensacionalismo»… sendo igualmente verdade que «o jornalista deve salvaguardar a presunção de inocência dos arguidos até a sentença transitar em julgado», tal como «deve utilizar meios legais para obter informações, imagens ou documentos, e proibir-se de abusar da boa-fé de quem que seja».  
Contudo, para além de tudo isto, há a verdade da sobrevivência, da subserviência, do protagonismo ou simplesmente a tentação vaidosa de dar corpo à ideia de um quarto ou quinto poderes que – manifestamente – o jornalismo não deve ser. O essencial da função é, pelo contrário, ser um contrapoder. É aí que reside a força do jornalismo. 


Quanto ao caso da lista dos devedores de consumo de água em Macedo de Cavaleiros, sendo condenável a «fuga de informação», sabe-se lá a troco de quê, não deixa de ser verdade que a Câmara parece não ter força para aplicar a lei. Quem deve é obrigado a pagar. Não cumprindo o requisito, fica sem água. Independentemente de podermos neste caso não duvidar do interesse público, até pela equidade/igualdade de tratamento dos cidadãos, não deixa de ser questionável o benefício da “fuga de informação”.  



Por outro lado, foi interessante saber que o futebol também foi na revolução, sendo normal que a tristeza de uns possa proporcionar a alegria de outros. Se as tecnologias (leia-se a má/deficiente aplicação das mesmas, como é o caso do VAR) não matarem o futebol, é muito bom saber que as surpresas podem acontecer. Sempre ouvi dizer que a bola é redonda e são 11 de cada lado – a não ser que os árbitros desequilibrem a «balança» ou «inclinem o campo» como acontece amiúde – tal como se deve atender ao fator sorte nada despiciendo. O futebol é mágico, já dizia Desmond Morris.


António Bondoso
Jornalista
28 de Abril 2018



2018-04-27


25 DE ABRIL 2018  – CRONOLOGIA
A 27 ainda se respira Abril, embora por motivos diferentes!


O texto na placa do Jardim do Campo Grande, a placa com a inscrição "Jardim Mário Soares — fundador da democracia portuguesa, Presidente da República e Primeiro-ministro, 1924-2017" que ficou instalada no extremo sul do Jardim, em Entrecampos, de facto não está bem. Mário Soares não foi «o fundador» da democracia…mas é inegável que foi um dos grandes lutadores pela sua conquista, depois de tantos anos da ditadura do Estado Novo. Por isso compreendo as críticas ao texto da placa, esperando que as mesmas não se direcionem para o significado da placa em si própria. Mário Soares merece, sem dúvida, ser perpetuado na toponímia da cidade. E quem se lembrou do jardim não esteve nada mal. Ali, na quietude do lago e das árvores, vai certamente respirar-se a memória de um dos nossos grandes lutadores pelas liberdades. E a liberdade de expressão, de que ele nunca desistiu, estará presente, quando o púlpito – que se encontra no centro de um pequeno anfiteatro circular, na zona sul deste espaço verde, em frente à casa onde morou – for devida e livremente utilizado. 



Um outro foi seguramente Álvaro Cunhal, que o Jornal 2 da RTP, pela batuta do João Fernando Ramos – em dia de aniversário – levou aos telespectadores diretamente do Forte de Peniche, que vai ser o Museu Nacional da Resistência e da Liberdade. Dali fugiram Cunhal e mais 9 presos, em 1960, para desespero da PIDE e do regime de Salazar, pois o Forte de Peniche era considerado de segurança máxima e até inexpugnável. Depois de pronto, espera-se que o Museu saiba cativar público para um conhecimento mais aprofundado da história mais ou menos recente do país.



António Bondoso 
Jornalista
27 de Abril 2018. 

25 DE ABRIL 2018 - CRONOLOGIA
O DIA SEGUINTE: 


Manhã emotiva e interessante na Biblioteca do Agrupamento Escolar D. Pedro I, em Canidelo – Vila Nova de Gaia – onde se falou do 25 de Abril de 1974, suas causas e consequências. Designei eu esse acontecimento como O GOLPE DOS 4 DÊS: Derrubar o Regime, Descolonizar, Democratizar e Desenvolver. Acrescentei apenas um “dê” aos 3 mencionados no programa do MFA que, porventura, terão ido buscar a ideia a uma tese de Medeiros Ferreira – apresentada no Congresso da Oposição Democrática de 1973 em Aveiro. E lembrei que o meu 25 de Abril aconteceu na fase final do meu “serviço militar” em S. Tomé e Príncipe, no Quartel do Aeroporto, quando ouvi pela emissão de Onda Curta da BBC a notícia de movimentações militares em Lisboa, pouco passava das quatro da madrugada. O passarinho cantou…depois da senha Grândola Vila Morena, na voz de Zeca Afonso.
         Foi lá que tive o prazer de conhecer o hoje Almirante Cavaleiro Ferreira e o agora Coronel José Maria Moreira de Azevedo – delegados da Junta de Salvação Nacional e do MFA. Sobre o primeiro, recordo particularmente as noites passadas na Rádio a tentar perceber o que se ia passando em Portugal. E depois, até um pouco de pedagogia política sobre os termos em voga: democracia, liberdade, autodeterminação, independência. Também não me esqueci de referir que, em 1968, foi para S. Tomé que Salazar deportou Mário Soares, depois de prisão pela PIDE, sem culpa formada. 



PARA QUE FOI FEITO O 25 DE ABRIL?
A desilusão deste «dia seguinte» veio já ao fim da tarde, quando tomei nota da decisão de devolver – embora de forma faseada – os cortes que os políticos haviam sofrido nos seus vencimentos durante o tempo da «Troika». E os cortes das reformas quando serão devolvidos? Foi para isto que se fez o 25 de Abril?


António Bondoso
Jornalista
26 de Abril de 2018


2018-04-17



Foto da Web



ABRIL PODERIA TER SIDO EM MARÇO…ou de como os militares, em 1974, tiveram dificuldades em comunicar e se viram envolvidos num fogo cruzado de informação e de contrainformação, envolvendo oficiais oriundos da Academia e sendo outros milicianos.
Mas o 16 de Março, garante Manuel Monge, não foi um engodo de ninguém e muito menos do PCP. A operação desencadeada pelo RI5, das Caldas da Rainha, tinha como objetivo primeiro reagir às anunciadas demissões de Spínola e de Costa Gomes pelo regime de Marcelo Caetano.
 Manuel Monge diz sentir mágoa pela situação fortuita que levou ao falhanço do 16 de Março, nomeadamente as hesitações dos Paraquedistas que – segundo ele – eram incapazes de desobedecer à cadeia de comando e que, por isso, não deveriam ter sido contactados. Foi um erro, diz o general Monge, apesar de as Ordens de Operações apenas incluírem os Paraquedistas numa situação de “reserva”. Mas garante que estava tudo preparado pelo Movimento dos Capitães, incluindo o empenhamento de Otelo e de Jaime Neves, por exemplo e de outros elementos do RI5 como Casanova Ferreira.
Contudo, Adelino de Matos Coelho – tenente de infantaria à altura do acontecimento, que integrou a coluna das Caldas e que viria a ser preso na sequência do fracasso – disse ao Centro de Documentação 25 de Abril, de Coimbra, que “…no dia 13, em Santarém e em Lisboa, os tenentes (oriundos de cadetes) Rocha Neves e Moreira dos Santos, do RI nº 5, participaram em reuniões destinadas à distribuição do “plano de operações” de um golpe militar previsto para 14, o qual foi anulado. Regressados de Lisboa, ao princípio da madrugada 14, os tenentes trouxeram esta informação porque os pára-quedistas necessitariam de dez dias para preparar a acção. Assim, ficámos a aguardar novas indicações.
Em ALVORADA EM ABRIL, Otelo Saraiva de Carvalho descreve aquele plano, “elaborado no dia 11, em casa do major Casanova Ferreira, com a participação de Monge, José Maria Azevedo, Geraldes, Luís Macedo e Garcia dos Santos, parecendo uma brincadeira de garotos, cada um atirava o seu objectivo para cima da mesa (…), tendo sido feito sobre o joelho, sem força nem estrutura de qualquer espécie (…).”
Mas José Maria de Azevedo, então major – recordo – apesar desta apreciação negativa de Otelo, havia estado na base do 1º documento do Movimento dos Capitães. Já o próprio mo havia confirmado, mas igualmente Vasco Lourenço o disse ao Centro de Documentação 25 de Abril a propósito da reunião em casa de Marcelino Marques em Janeiro de 1974, e na qual aparece Melo Antunes, que Vasco Lourenço não conhecia: “(…) o José Maria Moreira de Azevedo que era um major, hoje coronel de Administração Militar que ficou encarregado de elaborar um projecto e eu quero ir mais avançado, entrar já em questões de natureza política e sou eu que o convenço e que digo. Nem pensar nisso, tu tens que aparecer com um documento mais atrasado que aquilo que tu queres e vais aparecer com um documento quase só com questões corporativas. (…) E aí o José Maria Moreira de Azevedo levou uma tareia por causa do documento estar muito pró, que ele não queria. Bem, a certa altura irritou-se, atirou com os livros ao chão - “Eu não estou para vos aturar, eu não quero saber mais nada disto. Eu vou-me embora”. Eu puxei-o e disse: “Estás a ver que estamos a atingir o que queríamos. Se tivesses trazido um documento mais avançado estavas a levar tareia porque estavas longe de mais. Estás a levar tareia porque estás muito aquém daquilo que a malta quer e agora vai sair daqui uma posição, vai ser dado um salto qualitativo muito mais do que tu alguma vez imaginaste.” “Mas não estou para vos aturar”. “Não, mas atingimos os objectivos e agora vais ficar na comissão de redacção do próximo documento.” E ele. “Nem penses nisso!” Mas acabou por ficar.”

Para além do episódio com os Paraquedistas, Manuel Monge refere igualmente problemas de última hora com alguns dos militares do CIOE de Lamego que não puderam tomar parte na operação. No fim, acrescenta, acabou por assumir a responsabilidade juntamente com Casanova Ferreira, tendo sido presos na Trafaria. Foram libertados na tarde do dia 25 de Abril por uma unidade de Vendas Novas. Era para ter sido uma força do Batalhão de Estremoz, mas foi preciso desviar esses militares para ajudar Salgueiro Maia no Largo do Carmo.
Apesar de tudo, Manuel Monge não sente desilusão com a sequência do golpe de 25 de Abril, excetuando talvez o problema da descolonização, cujo obreiro foi Melo Antunes, num período difícil da Guerra Fria. Pior não era possível – diz o gen. Monge – que não se esquiva igualmente a criticar o que chama de infiltrações esquerdistas, nomeadamente da Marinha, cujo rosto mais visível era o de Rosa Coutinho e que “nunca fez nada para o Movimento”. Por outro lado, o já Movimento das Forças Armadas, apesar das tentativas de Spínola, não conseguiu arregimentar o poder interventivo da ONU, ao contrário do que viria a passar-se anos mais tarde com a sensibilização para a resolução do problema de Timor-Leste.
E sobre a União Europeia, o gen. Monge diz que a Organização sucumbiu atualmente aos interesses do grande capital e da Alemanha, notando igualmente que há uma gritante falta de líderes e de liderança.
A propósito do 25 de Abril de 1974, quero ainda deixar um excerto de uma entrevista que o Coronel Castro Carneiro deu em 2014 aos alunos do Instituto Multimédia do Porto Tomás Cazaux e João Farpa, sob minha orientação. Castro Carneiro, que aderiu ao Movimento dos Capitães em Angola, em 1973, foi o oficial encarregado de distribuir as Ordens de Operações do golpe pelas unidades da Região Militar do Norte (Lamego, Vila Real, Chaves e Bragança), a partir do CICA, no Porto. Nessa entrevista, aquele oficial confessa que o sigilo era fundamental. Nem a sua mulher sabia dos movimentos para que foi destacado. E destaca que o «golpe» foi, de facto, um ato de desobediência.   
António Bondoso
Jornalista
Abril de 2017. (Versão actualizada em 2018).