2018-12-31

PARA «ELES»…

Ter uma lista de «amigos»
De tamanho universal
Oferece tantos caminhos
Muito além de Portugal.

Percorrer essas estradas
Quantas só imaginadas
É tarefa que em segundos
Nos conduz a outros mundos.

Por isso…aqui deixo um grão de areia com sabor a mar
Na felicidade de cada um daqueles que me «tocaram»
Neste ano a findar.
E dessa lista com muita «ilusão»
«eles» bem sabem quem são!
Um abraço sentido deste que é apenas o


Foto da Web
António Bondoso
Dezembro de 2018.

2018-12-23


SE PENSARMOS SÓ NA ÁRVORE…nunca chegará o Natal!
Falemos menos de magia e mais de ação. Não vale o exercício repetido do recurso à geografia do sofrimento, da miséria e da guerra…é por demais conhecida. Centremo-nos aqui, nas dores do que somos e que vivemos.


É comum ouvir palavras repetidas por esta altura. Diz-se que é Natal e que há uma árvore toda iluminada e colorida, na base da qual é suposto depositar presentes; e também se diz que há «espírito» no ar; e diz-se igualmente que é um tempo de paz e de alegria; e diz-se ainda que é um tempo solidário e de partilha.
         Sem qualquer ponta de demagogia – e ao contrário de algumas «mensagens» natalícias que já ouvi – eu venho falar-vos dos milhares de árvores despidas e dos milhões de barracas que nem sequer têm lugar para uma árvore. Venho falar-vos desse símbolo máximo do consumismo e de um Pai-Natal que só «viaja» em determinadas latitudes, sem tempo nem espaço para visitar milhões de chaminés frias de vida e vazias de sentido.
         Venho falar-vos de árvores sem raízes, praticamente mirradas por falta de um carinho diário. Venho dizer-vos que os homens esqueceram a boa nova da chegada de Cristo redentor; e lembrar-vos de que o «presépio», na universalidade da mensagem, não precisa de musgo nem de «reis magos» mas sim da nossa «presença».
         Saibamos olhar, saibamos escutar, saibamos agir!
António Bondoso
Jornalista
Dezembro de 2018

2018-12-21

SOBRE O DIA DO SANTO…na ILHA DE NOME SANTO

E há aqueles preciosismos de ter sido a 21, ou a 20, de Dezembro ou de Janeiro… em Novembro não foi certamente e, em Janeiro, talvez fosse preciso mais dinheiro. E numa autêntica «revisão» de factos históricos, baseada em fontes tão credíveis – ou menos – do que as conhecidas e aceites até há pouco, já não é o ano que marca o início da «história». Antes se prefere a década de 1470. Seja.



O australiano A. R. Disney – na sua História de Portugal e do Império Português – referindo-se concretamente ao conjunto de ilhas do Golfo da Guiné, praticamente no meio do mundo, escreve: «Estas ilhas, desabitadas, à excepção de Fernando Pó, quando os Portugueses lá chegaram, foram descobertas na década de 1470 por navegadores, provavelmente ao serviço do contratante Fernão Gomes.»
Seja como for, e este é um tema para desenvolver em outras circunstâncias e com enquadramento diferente, a celebração do «Dia do Santo» é ponto assente para um grande grupo de naturais e de antigos residentes em S. Tomé e Príncipe: - 21 de Dezembro. Tem sido assim há décadas. E por não ser exatamente um «crime» histórico, antes uma data de encontro e de convívio, mais uma vez é assinalada. Trinta e três «santomenses» vão juntar-se em Corroios, num restaurante do escritor santomense Orlando Piedade, junto à Casa do Povo. Para além de outras iguarias próprias das «ilhas»…é fundamental o «calulu».
E de acordo com o professor e escritor Rufas Santo, a data foi também assinalada com uma missa na Igreja Nova de João Baptista Scalabrini, na Amora.
António Bondoso
Jornalista

2018-12-20


O QUE FALHA…ou vai falhando!
Está em voga nos últimos tempos. Repetida à exaustão, é uma conhecida tática de desgaste. Permitida, alimentada e manipulada à exaustão, em toda a pirâmide do Estado, transforma-se na arma perfeita do populismo e dos populistas. 


O que falha neste retângulo não é o Estado, entendido como agregador de todos os portugueses. O que falha é a atitude dos políticos, quer sejam governantes ou não. E à grande parte deles falta competência – uma falha gravíssima. O que falha é a falta de carácter dos «fazedores» de opinião publicada. O que falha é sermos sérios. O que falha é o sentido do ridículo de quem intervém a destempo ou daqueles que pecam por omissão. O que falha é a falta de competência dos técnicos nos vários setores de atividade. O que falha é não termos patrões qualificados ou que saibam ser empresários. O que falha é igualmente a falta de honestidade de uma boa parte dos empregados, já que os verdadeiros trabalhadores nem sequer têm tempo para ser desonestos. O que falha é a atitude gananciosa dos «donos disto tudo», ou da alta finança – se quiserem. O que falha é a contradição entre pobreza e miséria, por um lado, e as benesses atribuídas aos bancos e banqueiros, por outro, para controlo do tecido económico e do défice – como dizem os políticos. O que falha – e tem falhado neste país – é a completa submissão à ilusão da bondade da União Europeia – idealizada para a Paz, mas cuja «construção» tem vindo a ser encaminhada para benefício dos donos do dinheiro, em desfavor dos cidadãos, acentuando mesmo as desigualdades entre os Estados-membros. O que falha, em última análise, é saber olhar para as pessoas. E é delas, e para elas, que vivem os Estados.
O que falha, no caso de Portugal, é a coragem de assumirmos os defeitos – como dizia Almada Negreiros no Ultimato Futurista às gerações do século XX: «O Povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem, portugueses, só vos faltam as qualidades».
Completando a ideia, gostaria apenas de fazer referência ao pensamento de dois amigos. Ao João de Sousa, do jornal TORNADO, sobre a polémica recente à volta dos magistrados do MP. Escreve ele: «Portugal é um Estado de Direito, Democrático, em que o titular da soberania é o povo, representado pelos órgãos eleitos por si. Não há ilhas em autogestão, fora desta soberania. (…) Os magistrados do MP têm de rapidamente reconhecer a autoridade dos órgãos do estado em matéria regulamentar, disciplinar e orgânica sob pena de continuarmos no paradoxo de uma instituição a quem o povo incumbiu de investigar e de fazer cumprir a lei ser ela própria fora da Lei
Já o Jorge Bento, Professor Universitário, lembra a exigência do aprofundamento da democracia, lançada pelo Papa Francisco, a qual parece ter caído no esquecimento da governança do mundo, nomeadamente na Europa: «A democracia não corre perigo algum, bem pelo contrário, quando se toma consciência da necessidade de a aprofundar e melhorar. Ela é ameaçada, sim, quando os partidos se contentam em ser máquinas de conquista, partilha e usura do poder. Do jeito como a coisa anda, eles funcionam, não raras vezes, como instrumento de inaceitável asfixia cívica e democrática. Uma análise responsável das circunstâncias não estranha que os cidadãos procurem formas alternativas de expressão e representação da sua vontade e dos seus anseios. Não é o fim; é a exigência de um novo e superior estádio da democracia! Ora isto coloca a questão de saber se os partidos e os políticos profissionais são capazes de aceitar este desafio.»
Não tendo hoje filiação partidária e não sendo um político profissional, corroboro este desafio aqui expresso por Jorge Bento, tendo em conta que a democracia também não pode fortalecer-se à margem dos partidos, nomeadamente dos tradicionais. Por outro lado, lembro que os novos movimentos gerados na sociedade, particularmente na Europa, em muitos casos contra os partidos, acabam quase sempre por se transformar igualmente em partidos.
O que não deixa de ser uma «falha», claro, e não tão pequena quanto isso!
António Bondoso
Jornalista
Dez de 2018.





2018-11-26

A MINHA DEPRESSÃO não se chama Diana
Ou de como passei a ter mais 250 razões para não voltar a exercer o meu direito de voto neste país da treta. 

Foto do JN

         Como eu teria gostado de ver os mesmos 250 deputados – os do PS que me perdoem – a votar para «obrigar» o governo a repor os cortes na reforma/aposentação desde 2011. Supondo que lá estariam todos, não fosse algum – ou muitos – a «emprestar» a password para outros votarem por eles.
         O que se passou hoje na AR foi o cúmulo da falta de vergonha dos designados «eleitos pelo povo». Os «professores» dão votos – e arrastam outros departamentos da função pública – ao contrário dos aposentados que, infelizmente, não têm condições para reivindicar seja o que for. Os próximos atos eleitorais não podem valer tudo.
         Para mim, seguramente, não terão qualquer valor. Nenhum partido, nenhum movimento merecem hoje a minha aprovação. Por morrer uma andorinha não acaba a primavera, é verdade, mas faço questão de marcar o meu ponto de vista. Sendo certo que o meu (não) voto pouca diferença fará no resultado final de uma qualquer eleição, é seguro que a minha consciência – resultado do meu carácter – ficará em paz. E que os eleitos sejam muito felizes, independentemente de saberem – ou não – o significado das palavras solidariedade ou justiça. E a propósito desta última, sempre recordo que um homem acaba de ser condenado a ano e meio de prisão por ter «roubado» seis euros! E os milhares de milhões que continuam a passear-se por aí?

Foto do JN
António Bondoso
Jornalista
Novembro de 2018.  

2018-11-25


UM LIVRO DE VEZ EM QUANDO…NESTE ANO DE 2018.
Memórias Depuradas…ou a sublime simplicidade das palavras na procura de um caminho – que não é fácil – e na afirmação da esperança, das dúvidas e das certezas que levam ao cume da montanha.


Sendo certo que não há história sem memória…este primeiro livro de Maria Teresa Bondoso apresenta MEMÓRIAS DEPURADAS carregadas de espiritualidade, no qual e do qual se pode dizer que
Cada palavra é um verso
Em sílabas de muita emoção
Cada frase é um poema
Todo o livro um coração.

Todas as fotos da autoria de Ana Guerra Torres - Sonho Óptico
Seguramente mais espiritual do que místico, o livro de Maria Teresa Bondoso revela que a autora gosta de compor as palavras «como se a compor a vida» e diz-nos precisamente que as memórias são histórias desta vida. Cheia de mistérios certamente, alguns sombrios, mas também preenchida com a universalidade da cor – de todas as cores. E de muito Amor igualmente. Nestas suas MEMÓRIAS DEPURADAS, a autora apresenta-se simultaneamente com uma sensação de liberdade e com a certeza de muitos medos. O absoluto da liberdade – talvez só no céu, chegando mesmo a perguntar «como é que se chega aí»? Segundo a minha “leitura” é lá que está Cristo feito Deus, com “Quem” Teresa Bondoso dialoga permanentemente, procurando – assim – aproximar os seus leitores do mistério que é, incorporando o Espírito Santo, a “Santíssima Trindade”. 


Para chegar aqui, é fundamental atingir a “substância” das palavras com que a autora completa a sua obra. E sabendo que, para chegar ao «céu», só «um dia depois da vida», uma vida que passa por ela carregada de dúvidas e de esperanças, Maria Teresa Bondoso não se inibe de afirmar a absoluta certeza de que morrerá e escreve: «espero-te/ estou pronta e já podes vir». Apesar disso, e apesar de repetir a ideia de que «é com medo de morrer que morro», a autora não deixa de perguntar «e quando aí chegar/ como é que se volta aqui». Não vai, com medo, fica…mas sabe que seria outra, indo.
Sendo assim, posso concluir que é este o mistério que nos prende à vida. Somos mortais…mas, «abertas as horas/ o dia veste-se de azul e as palavras correm mais cedo». 

Na dedicatória aposta no meu exemplar, Maria Teresa Bondoso fala de «palavras que encontrarão eco». Posso garantir que todas elas, independentemente da minha visão do mundo e do mundo que a autora nos apresenta em Memórias Depuradas. Estando só, comunicando pela poesia…Maria Teresa Bondoso interroga-se sobre aquilo que a sua poesia pode oferecer ao mundo, e questiona o mundo sobre aquilo que ele lhe pode oferecer de relevante para a sua poesia.



O aspeto gráfico da obra é suficientemente suave para não ferir a vista... e, simultaneamente, é suficientemente atrativo para capturar todas as emoções da Poesia. Um livro espiritualmente sóbrio, como sóbria foi toda a sessão de apresentação no belo auditório da Biblioteca Municipal Bento de Jesus Caraça, na Moita, sendo a Câmara Municipal um dos parceiros deste projeto cultural que é a divulgação de autores do concelho. Os outros são a Editora Local (representada pela Anabela), que nasceu em 2017 e é constituída por um Grupo de Trabalho dos Organismos Populares de Base da Vila da Baixa da Banheira, e a União de Juntas de Freguesia da Baixa da Banheira e Vale da Amoreira.


A sessão foi excelentemente comissariada por Zélia Filipe, do departamento cultural da Câmara, que disse quatro poemas de Maria Teresa Bondoso: aquelas portas tinham mãos, o tempo das palavras, moldura e contenção


O final foi com música ao vivo (violino, piano e voz), exibindo-se professores e alunos da Escola de Artes da Moita, dirigida pelo professor Miguel Xavier: Raquel Fidalgo, Cristina Miranda, Tânia Cravo, Jorge Anacleto, Maria Eduarda, Liuba Sirbu, Filipa Moutinho, Sónia Torres, Ana Filipa e Joana Gonçalves. 



António Bondoso
Jornalista
Novembro de 2018.


COM FOTOS DE ANA GUERRA TORRES - SONHO ÓPTICO. 

2018-11-23

ELES SABEM…
Mas preferem desviar o olhar e dar o «ar» de quem apenas «veio ver a bola». Cada um por si…e o resto logo se vê! Eles sabem…e tenho pena dos meus amigos que sabem!


ELES SABEM…
Sabem que há pessoas sem teto e sabem que há pessoas com fome. Eles sabem que há pessoas na miséria e sabem que Portugal é o país europeu onde mais se morre de pneumonia. Os reformados até morrem à porta da farmácia! No entanto há greves justificadas pelo eufemismo da «aplicação da lei». E não há investimento na saúde.
Eles sabem…
Por isso vos digo que somos um país de indigentes mentais e que a propalada solidariedade é uma treta. Em laivos de caridadezinha…apenas já só reagimos a estímulos de tragédia e de vergonha.
Eles sabem…
Sabem que o «coração» do regime democrático e do Estado de direito está ferido de morte. No entanto há greves. E tudo o que os preocupa é o teto salarial. Na justiça e nas polícias.
Eles sabem…
Sabem que a «escola», depois da casa, deve ser encarada como o «princípio de tudo», mas não há investimento nas infraestruturas e nos alunos. Nem na formação de qualidade daqueles que deviam saber ensinar. E os que sabem, são arrastados na lama de reivindicações «fora de prazo» e no eufemismo da aplicação da lei.
Eles sabem…
Sabem os governantes e todos os políticos da oposição. Mas quem governa, prefere jogar com o défice e ignorar as pessoas. Por isso há precários, por isso há doentes, por isso há incêndios, por isso há acidentes trágicos. Não só, mas também por isso.
Eles sabem…
Sabem os deputados, os jornalistas e os presidentes de câmara. Mas o umbigo de cada um prefere alimentar o (triste) espetáculo mediático do que trabalhar com seriedade e dignidade.  
Eles sabem…
E talvez esperem ver de novo, um dia destes, o ressurgimento de uma «Câmara Corporativa» no Parlamento em Portugal, à semelhança da que existiu durante o Estado Novo.
Eles sabem…
Mas preferem desviar o olhar e dar o «ar» de quem apenas «veio ver a bola». Cada um por si…e o resto logo se vê! Eles sabem…e tenho pena dos meus amigos que sabem!

António Bondoso           
Jornalista
Novembro de 2018. 



2018-10-06


ELEIÇÕES EM S. TOMÉ E PRÍNCIPE
Como, à distância, cruzo informações e sentimentos. Mantendo o equilíbrio, controlando as emoções e apelando à serenidade.
Que o ato eleitoral decorra sem incidentes e que os vencedores, sobretudo se houver maioria absoluta, saibam respeitar as minorias. O pior que pode acontecer em democracia...é a DITADURA das maiorias. Um abraço a S. Tomé e Príncipe.
Foto Téla Nón

Campanha Eleitoral em STP termina em convulsão.

Já é tempo…também em S. Tomé e Príncipe, de quem governa servir o país e não se servir do Estado.
Ou de como a distribuição de arroz «fora de tempo», um cantor nigeriano e uma morte inconveniente podem alterar o sentido de voto nas eleições deste Domingo: Legislativas, Autárquicas e Regionais no Príncipe. 


Sem sondagens fidedignas que possam indicar uma tendência, veremos até que ponto a agitação popular dos últimos dias da campanha pode vir a determinar ou influenciar o comportamento dos 97.274 eleitores, distribuídos por 247 mesas de voto em todo o país.
         A votação decorre entre as 07.00 e as 18.00 horas deste domingo e veremos se o partido atualmente no poder – o ADI de Patrice Trovoada – vai manter a maioria absoluta, sobretudo tendo em conta a agitação vivida nos últimos dias e particularmente a morte de um jovem da Roça de Monte Café, em circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas. Tanto quanto se sabe o Ministério Público já mandou abrir um inquérito e os intervenientes diretos estarão sob custódia para interrogatório judicial e subsequentes medidas de coação.
         Nem sempre o que parece é, mas fundamental será que se saiba por que razão o jovem de 34 anos, Onésimo Sacramento, seria portador de uma arma de fogo quando foi comer a uma barraca; e que se saiba por que razão, quando interpelado pelas autoridades, se terá posto em fuga oferecendo resistência; que se saiba por que razão a força policial foi agressiva com o jovem; e que se saiba se a autópsia terá sido efetuada com eficácia (4 médicos na presença de um familiar); e se os resultados  imediatos serão fiáveis: - a primeira conclusão é que o jovem futebolista da UDRA poderia ter morrido de congestão. Não só pelo esforço físico da fuga e da queda a um curso de água na localidade de Água Cola, próxima da vila de Batepá, na Trindade, onde terá sido apanhado pela polícia e por elementos da guarda do governo. Ter-se-á sentido mal logo ali, pelo que terá sido transportado ao Centro de Saúde da Trindade onde já chegou sem vida. Há contudo outras informações, concretamente do jornal Téla Nón, citando populares, segundo as quais o jovem teria morrido na esquadra policial da Trindade, sendo posteriormente transportado para o Hospital Ayres de Menezes, na cidade capital. De facto, segundo outras fontes, o corpo apresentava sinais de agressão...mas, aparentemente, insuficientes para justificar a morte. Apurar as responsabilidades, com seriedade, é o desafio que agora se coloca ao Governo, à Polícia, aos familiares e às pessoas que presenciaram. E, sobretudo, saber transmitir igualmente com seriedade os factos. As razões de um clima tenso e intenso estão de facto a montante do que aconteceu na quinta-feira e cabe aos políticos - a quem governa em 1º lugar - fazer com que tudo seja mais transparente e mais sério.
         É complicado dizer até que ponto isto afeta a popularidade do governo e do partido que o suporta...mas afetar, afeta – dizem-me de S. Tomé. Foi uma campanha tranquila até este incidente e grande a mobilização popular. O ADI continua com a perceção de que é possível atingir a maioria absoluta dos 55 deputados, mas há quem veja potencialidades nas campanhas do MLSTP/PSD e da chamada «Coligação» entre o PCD, a UDD e o MDFM. Mas há quem coloque reservas à capacidade política desta «força», dizendo que as figuras carismáticas dos partidos praticamente desapareceram, perdendo-se a oportunidade de chamar à liça figuras como Maria das Neves ou Rafael Branco, mesmo como independentes.
         Na Região Autónoma do Príncipe, há 5.168 eleitores recenseados e concorrem três candidatos: José Cassandra, atual Presidente do Governo Regional, da União para Mudança e Progresso do Príncipe (UMPP), que procura um quarto mandato; o candidato do MLSTP é Luís Prazeres, mais conhecido por “'Kapala”, e depois há Nestor Umbelina, dissidente da UMPP, que concorre pelo recém-criado Movimento Verde para o Desenvolvimento do Príncipe.

          O processo eleitoral será acompanhado por missões de observação eleitoral, que já estão no terreno, nomeadamente uma da CPLP, chefiada pelo antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste, Zacarias da Costa.


António Bondoso
Jornalista                                                                      
6 de Outubro de 2018. 

2018-09-24

Decorreu em Lisboa o II Congresso da Mulher Santomense em Portugal.
Kwa kaba. Kaba zá e foi globalmente muito positivo, apesar de algumas e naturais lacunas.


Este II Senson Mwala Santome em Portugal foi uma iniciativa da Mén Non, que é a Associação das Mulheres Santomenses em Portugal e teve ajudas importantes da Universidade Lusófona, da Embaixada de STP em Lisboa, da Plataforma Cafuka e da RDP África.
Em resumo, Bwa Lumadu- muito bom, apesar de algumas falhas na organização.
O III Congresso da Mulher Santomense em Portugal foi marcado para 2020 e no próximo ano haverá provavelmente uma Conferência, com novas abordagens e sobre temas mais específicos – de acordo com Fatinha Vera Cruz que é a Presidente da Mén Non.
Entre as «lacunas» referidas – situação normal em iniciativas desta envergadura – esteve a “falta de espaço para debate”. O Congresso foi “panxadu” – muito cheio, com inúmeras intervenções – embora suavizado por excelentes momentos musicais de Toneca Prazeres. Foram igualmente recebidas e lidas muitas mensagens de mulheres que viveram a «manifestação de protesto e luta» do dia 19 de Setembro de 1974 em São Tomé – nomeadamente as de Maria das Neves, Elisa Barros e Maria do Rosário.
As considerações e conclusões, diz Fatinha Vera Cruz, vão agora ser compiladas em relatório com recomendações aos governos de S. Tomé e Príncipe e de Portugal, relatório que será divulgado oportunamente.
De acordo com outros olhos e ouvidos deste blogue «Palavras em Viagem», confirma-se uma reunião globalmente muito positiva com destaque para intervenções de muito nível – como foram as de Maria Amorim, antiga MNE de S. Tomé e Príncipe e depois embaixadora do país em Lisboa, com uma análise muito lúcida da situação presentemente vivida naquele país africano de língua oficial portuguesa, e de João Viegas, santomense a residir há muitos anos em Portugal, sendo funcionário da AR. João Viegas recuou à experiência e às vivências do seu tempo nas Ilhas do Meio do Mundo.
Exatamente sobre as tradições da mulher santomense, esteve em destaque um painel sobre «Quinté Glandji» ou «Kinte-Nglandji» [quintal onde as crianças são orientadas pelos mais velhos], no qual participou Inocência Mata e que foi brilhantemente moderado por Mutema Cravid. A ideia foi completada por um diálogo cómico e à moda antiga, tendo sido ainda declamado um poema de Conceição Lima.
Houve ainda lugar para testemunhos de mulheres de outros países africanos de língua portuguesa como Cabo Verde, Guiné, Angola e Moçambique – sendo este representado pela poetisa Elsa de Noronha, há muitos anos a residir em Portugal e que disse 3 poemas sobre a temática da mulher.
Outra escritora convidada foi a santomense Olinda Beja – igualmente a viver e a trabalhar em Portugal há largos anos – mas que não pode estar presente por motivos ponderosos. Uma mensagem de saudação que enviou ao Congresso [e que me chegou por intermédio da Milé Albuquerque Veiga] acabou por ser lida por Mena Teixeira, quase sem tempo, e no texto Olinda Beja diz não ser fácil «falar do percurso, meu e vosso, que nós, mulheres de São Tomé e Príncipe, temos feito nesta diáspora, que nos acolheu e acolhe mas onde se encontram sempre pedras no caminho». Fazendo apelo à coragem, à humildade e à dignidade para que as mulheres «se imponham nesta senda pedregosa, sem olhar à cor, à religião ou ao estatuto social», Olinda Beja defende uma luta «de olhos nos olhos, sem atropelos e sem traições: - Devemos ter sempre em mente que estamos todas no mesmo barco qualquer que seja o nosso papel na sociedade. Por este motivo não nos esqueçamos nunca de dar as mãos umas às outras». Após a leitura da mensagem já não houve tempo para exibir um pequeno “slideshow” sobre a vida e o trabalho de Olinda Beja – elaborado por alunos da Escola «EB 2.3 de Paço de Sousa», depois de um encontro com a escritora em 2015 – um dos muitos que vão conduzindo Olinda Beja por várias escolas deste país.
Do mesmo modo foi pena não ter sido exibida e comentada a primeira curta-metragem de ficção produzida pela Tela Digital Media Group, idealizada e realizada por Katya Aragão. MINA KIÁ conta a história de Tónia, uma menina sonhadora que é enviada para casa dos tios na cidade grande… 

António Bondoso                                                                                     
Jornalista
Setembro de 2018.            

2018-09-20

S. Tomé e Príncipe em Portugal. II Congresso da Mén Non
COMO SE AVALIA A IMPORTÂNCIA DE UM CONGRESSO SOBRE A MULHER? É preciso ter voz para ultrapassar dificuldades. 


Entre muitas questões que se colocam às «mulheres santomenses» em Portugal, há algumas que, por si só, justificam um aceso e profícuo debate. A MÉN NON – associação que congrega as mulheres de S. Tomé e Príncipe a residir e/ou a trabalhar em Portugal – decidiu pegar no tema da «Migração Feminina Santomense» e pôr muita gente a falar sobre «desafios e conquistas».
         Referindo e lamentando o facto de ainda não haver um núcleo da MÉN NON em S. Tomé e Príncipe, necessário ou mesmo fundamental, a Presidente da Associação – Ilidiacolina (Fatinha) Vera Cruz – disse ser muito mau não terem voz no próprio país. «É como se fossemos estrangeiros».
         Numa breve conversa telefónica, fiquei igualmente a saber que os governantes de STP conhecem a Associação, sabem do trabalho desenvolvido e elogiam…mas «poderiam fazer mais». Contudo, não deixou de salientar que há uma boa relação com Ernestina Menezes, que dirige o Instituto da Igualdade de Género no país.
         Do mesmo modo, elogiou a colaboração que a MÉN NON tem recebido das autoridades portuguesas, por intermédio da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género de Portugal, não apenas no apoio à realização do II Congresso que vai decorrer no dia 22 nas instalações da Universidade Lusófona em Lisboa. Essa colaboração tem sido muito positiva na concretização de projetos no terreno, nomeadamente na sensibilização para os problemas da violência doméstica junto das maiores comunidades situadas no Bairro Jamaica e no Traço da Ponte, antiga Quinta do Mocho.
         A caminhada tem vindo a fazer-se mas é muito dura, perante as enormes dificuldades que se apresentam, sabendo que a diáspora santomense em Portugal é das maiores, apesar de muitos elementos terem daqui partido para a Inglaterra, França e Luxemburgo.
         Mas essas dificuldades, disse-me Fatinha Vera Cruz, dão mais força à Associação. E graças aos amigos, aos associados e às ajudas institucionais tem sido possível desenvolver projetos. Para além dos já mencionados, há igualmente essa ideia de um Feira do Livro de autores santomenses a realizar no Porto, provavelmente a 25 e 26 de Outubro. 


Mas para este II Congresso, já depois de amanhã – na Universidade Lusófona, em Lisboa – vai valer a pena ouvir mulheres de várias latitudes. De S. Tomé virá a jurista Vera Cravid, mas em Portugal residem e trabalham muitas outras palestrantes: Maria Magdala, fundadora e diretora da empresa ComuniDiária tentará responder à questão genérica «Quem é a Mulher Brasileira?»; Joacine Katar Moreira, natural da Guiné-Bissau, ativista social e investigadora do ISCTE dará a sua visão sobre a mulher guineense; de França virá a socióloga Maria-Alves Neto para dar uma perspetiva sociológica da emigração feminina santomense, com enfoque na Europa, particularmente em França. Yasmina Costa falará sobre a Diáspora Africana com enfoque em Angola e, de Moçambique, a poetisa Elsa de Noronha que reside há longos em Portugal. Ainda destaque no campo das letras para as escritoras/poetisas Alda de Barros e Olinda Beja e uma presença masculina em foco – Carlos Almeida Camucuço - para transmitir um olhar diferente sobre os desafios da mulher.
         Um painel a justificar expectativa é seguramente aquele que vai discutir os valores éticos e preconceitos do «Quinté Nglanji», moderado por Abigail Tiny Cosme e com a participação de Inocência Mata.
         Um último destaque para o cinema. Katya Aragão mostrará os bastidores do filme «Mina Kiá» - a primeira curta-metragem  de ficção produzida pela “Tela Digital Media Group”. Tónia, uma menina sonhadora, é enviada para casa dos tios na cidade, onde vai ser educada…
Bom trabalho, bom Congresso da Mulher Santomense em Portugal.


D. Maria de Jesus e D. Luisa Teixeira, mulheres santomenses de um tempo outro.

António Bondoso
Jornalista


20 de Setembro de 2018.

2018-09-18

TUDO PELA POESIA E PELA VIDA DA URBE. MOIMENTA DA BEIRA EM SETEMBRO.
Há sempre um pretexto para dinamizar.
E há sempre um contexto para situar.
E há igualmente o açúcar para consolidar. 


E foi assim que, há dias, se promoveu uma noite de cultura poética bem no coração do «interior centro-norte» deste país assimétrico e de mentalidades periféricas.
Em Moimenta da Beira, uma região de baixa densidade a sul do Douro – castigada pela desertificação (emigração e esquecimento por parte do centralismo) – pensou-se uma «noite de poesia com açúcar» exatamente na Açucarinha, hoje uma pastelaria mas pensada como snack-bar há largos anos. Pegando na ideia de Natália Correia, de que «a poesia é para comer» e tendo em conta que «a poesia tem uma função social» como dizia Antero de Quental… o café de cada um dos presentes foi acompanhado de um pedaço de “sucrinha” – um doce típico de açúcar e de côco que eu me habituei a consumir na infância em S. Tomé e Príncipe. 


Foi nesse espaço, nessas ilhas do «meio do mundo», onde existe um pássaro que anuncia a chuva, que nasceram os grandes Almada Negreiros e Francisco José Tenreiro. Deste último selecionei precisamente «O OSSÓBÓ CANTOU», lembrando que «cantou o ossóbó/seu canto molhado./ Tchuva já vêo?/Já vêo si siô».
O espaço e o nome deram forma à ideia, celebrando-se, portanto, a Poesia. E foram vários os poetas «convidados», não por acaso começando por mim e folheando praticamente todos os livros publicados, nos quais dediquei especial atenção à Poesia. Foi assim que amigos e familiares quiseram dizer poemas de minha autoria, estando grato à Alexandra Cabral, à Isabel Salgueiro, à Rita Regadas, à Dinora Sobral, à Maria do Amparo, ao António José Bondoso, ao Francisco Cardia, ao Fernando Domingos, ao Hugo Bondoso, ao José Eduardo Ferreira e ao Nuno Bondoso.
Numa segunda fase, foi dada oportunidade aos presentes de poderem chamar ao palco outros Poetas. Eu lembrei Alberto Estima de Oliveira e Pablo Neruda; a Maria do Amparo deu primazia a Luís Veiga Leitão e a Maria Teresa Bondoso; Isabel Salgueiro chamou Lilás Carriço; Francisco Cardia homenageou seu pai por intermédio de Guerra Junqueiro; Rita Regadas lembrou Pedro Homem de Melo; José Ricardo Ferreira recitou de cor Miguel Torga e Manuel Rodrigues Vaz deu-nos a conhecer «As Belas Meninas Pardas» de Alda Lara.
E porque era Setembro, veio ainda à memória o Chile, de 1973; Timor, em 1999 e Nova Iorque em 2001, sem esquecer os 75 anos da fundação do antigo «Externato Infante D. Henrique». Propus então “Celebrar a Viagem” na voz da Isabel Salgueiro, não sem antes ter passado por Carlos do Carmo, Ary dos Santos e Jorge Palma – figuras que veriam os seus nomes ligados à “Expodemo 2018”, um certame que mostra bem e dinamiza Moimenta da Beira.  


Um agradecimento particular à D. Manuela e ao Sr. Francisco – hoje proprietários da «Açucarinha» - pelo carinho que atribuíram à iniciativa, e também à D. Augusta – uma santomense que reside no Porto e que foi responsável pela confeção de uma boa parte da «sucrinha». À Ana Maria Fonseca, grato pela excelente «reportagem». 


António Bondoso
Jornalista                   
Setembro de 2018.

2018-09-15

EXPODEMO 2018: o governo não ouviu, mas talvez alguém lhe diga.
É preciso resistir ao centralismo e lutar por uma verdadeira política de coesão nacional! É inadmissível o esquecimento do interior! A maçã e os vinhos não são um conto de fadas e não consta que a «Branca de Neve» perceba de economia. 


Posso dizer que foi um grito de revolta contra o «abandono» das regiões de baixa densidade, o que eu escutei hoje em Moimenta da Beira, pela voz do Presidente da Câmara José Eduardo Ferreira, na abertura da Expodemo 2018 – um certame que pretende mostrar as potencialidades da região e tem vindo a transformá-la numa nova centralidade. Apesar do esquecimento com que esta parte do país tem sido brindada pelas políticas de sucessivos governos.
Das ideias fortes que eu retive do discurso inaugural, como sempre de improviso, posso referir duas ou três que balizam a dura intervenção de José Eduardo Ferreira: Não é admissível que os Fundos de Coesão da UE sejam desviados do verdadeiro objetivo de promover a coesão nacional. A região espera que lhe devolvam o que lhe vem sendo retirado de há muitos anos a esta parte; Não é admissível que as áreas de Lx e Pto, com 6% da população, recebam 50% dos fundos estruturais; Não é admissível que a região seja excluída do Plano Estratégico 20-30; Não é admissível o que se passa com o regadio. Remendar o tradicional não é solução, sobretudo nesta região da melhor maçã do país – provavelmente da Europa e do mundo. E é grave olhar apenas para o Alqueva; Não é admissível que a Linha do Douro continue sem investimento e que o IC26 não entre nas contas do governo para benefício desta vasta região centro/norte do país. 



Mas quem ouviu depois o concerto de Jorge Palma – excelente por sinal – certamente reteve os versos da canção «A gente vai continuar»:
Enquanto houver estrada para andar
a gente vai continuar
enquanto houver ventos e mar
a gente não vai parar
Quem escutou este refrão final de Jorge Palma, sem grande dificuldade pode associar os versos do cantor às palavras duras ditas por José Eduardo Ferreira, para chegarem aos ouvidos moucos do governo. O apelo ficou…e a gente não vai parar! A maçã e os vinhos não são um conto de fadas e não consta que a «Branca de Neve» perceba de economia. 


António Bondoso
Jornalista (CP.150 A)
14 de Setembro de 2018.