2017-12-21

OS AMIGOS BONS...DESPEDEM-SE ANTES DO NATAL!




ACHAS?
Há sempre uma hora, há sempre um dia. Que nós, como verdadeiros Amigos de quem somos, desejamos vá sendo adiado. Mas o momento é inevitável. E hoje, pela pena do filho Rui na página do pai, chegou a tristeza de uma nota em tom poético sobre o passamento do Tozé Cardoso Pinto. Conheci-o há muitos anos, trabalhava ele na RDP, em Lisboa, depois de ter emprestado a sua voz e a sua sensibilidade à Rádio em Angola. Cardoso Pinto nasceu em Malanje. E conhecemo-nos no Porto, por ocasião de uma visita de trabalho do então Diretor de Informação José Gabriel Viegas. Depois, fomos mantendo o contacto, embora o Tozé tenha preferido deslocar-se para a área dos programas, ali mesmo À Esquina da Um. Tinha mais a ver com a sua forma de estar, com a sua sensibilidade, com o seu ritmo. Um tom que ele deixava transparecer quando me respondia : «achas»?
Pois o Tozé foi seguramente uma das pessoas mais responsáveis pela minha ida para Macau trabalhar na TDM. E foi lá, também com ele, que eu me fui apaixonando pelo gosto de trabalhar as palavras. A minha poesia ganhou forma ali na Rádio, em Macau. Obrigado Tozé pela Amizade, grato pelo teu cuidado e teimosia em querer trabalhar comigo. O meu abraço em estereofonia – bem expresso neste prefácio da Inês Pedrosa ao teu livro A LUA DOS ASTRONAUTAS NÃO É A MINHA LUA:
" CORAÇÃO EM ESTEREOFONIA "
Cercar de fogo as margens brancas da rádio é um labor delicado,
porque aqui o fogo tem que arder no escuro, como diria Camões
se ouvisse telefonia.

Há que fazer com que a palavra pareça música, a música pareça segredo
e ambas abracem aquilo que do outro lado é solidão.
Como a poesia, ou com ela. Cardoso Pinto sabe disto e sabe a isto.
Trabalha-se com o coração à beira-boca no limiar da absoluta invisibilidade,
no palco do puro instantâneo.

... Com mais ou menos estereofonia, o desafio continua suspenso pelo mesmo precário fio de sintonias: a transparência da palavra, o grão da voz.
Cardoso Pinto disse, e agora escreve: "reflectindo, reflectimo-nos".

Disse e escreveu pequenas histórias de estrelas e sábios passeando pelo céu imenso de uma cidade irresistivelmente violenta.
O que ele disse escreve-se.

Há coisas assim que ditas já são outras verdades.
====
António Bondoso
Jornalista.
21 Dez. 2017




UM NATAL COM JUSTIÇA!
Afinal...a Justiça deveria ser e estar Todos os Dias...


NÃO ME VENHAM FALAR DE NATAL!
FALEM-ME DE JUSTIÇA!
(Atualizando o que escrevi em 2015, percebendo a sem-vergonha de PPCoelho, Cristas e quejandos. Dou de barato o triste espetáculo da oposição na AR, mas não posso deixar passar em claro a barbaridade da afirmação do ainda líder do PSD sobre não ter memória de um ano tão trágico).
Não me venham falar de Natal, quando a miséria, a pobreza, a desigualdade entre os homens de todas as raças se acentua; não me falem de Natal quando os “donos disto tudo”, banqueiros e mercados sem rosto, somam cada vez mais às suas fortunas roubando o produto de quem trabalha e de quem já trabalhou; não me falem de Natal quando os jovens não têm futuro na terra onde nasceram; não me venham falar de Natal quando as migrações são cada vez mais forçadas por situações de guerra e perseguições políticas – da Síria ao Sudão, da Líbia ao Iraque, da Sérvia ao Kosovo, da Albânia à Turquia, do Líbano a Israel, da Rússia à Palestina, do Paquistão à Índia, da Indonésia às Filipinas, da China ao Tibete, do México aos Estados Unidos, da Alemanha à Hungria, do Congo ao Chade, da Tunísia ao Burquina Faso, de Angola ao Zimbabwe, do Brasil à Venezuela, de Myanmar ao Ruanda ou ao Quénia. Não me falem de Natal quando as crianças em todo o mundo são violentadas pela fome e pela escravidão.
Não me venham falar de Natal.
Falem-me de Justiça.
Não me falem de Natal, quando os doentes passam cada vez mais situações críticas já mesmo à porta das farmácias – quando não, até à porta de suas casas. Não me venham falar de Natal quando os avós e os pais já não conseguem – em cada dia – fazer face ao desespero dos filhos. Não me falem de Natal, quando há situações diárias de pais e filhos desavindos. Não me venham falar de Natal, quando há escolas e hospitais que não funcionam por falta de verbas. Não me falem de Natal quando a violência doméstica é cada vez mais comum; não me falem de Natal quando os vizinhos se agridem por uma flor de jardim ou por um arbusto saído; não me venham falar de Natal quando as alterações climáticas – resultado sobretudo das ambições desmedidas do “homem” – conduzem à morte do nosso planeta a um ritmo assustador.
         Não me venham falar de Natal apenas em Dezembro, exatamente numa altura que o ainda líder do PSD se lembrou de dizer que não tinha memória de um ano tão trágico em Portugal. Certamente se esqueceu – pois não tem memória – dos 1216 casos de suicídio registados em 2014. E nos anos do seu (des) governo, patrocinado pela Troika e por Cavaco Silva, também não se recorda das pessoas que perderam as suas casas para os bancos (que ele alimentou com milhões) ou daqueles que se viram obrigados a emigrar ou a desfazer-se de muitos dos seus bens para enfrentar os efeitos dos cortes cegos – sobretudo nas pensões de reforma. É trágico recuperar uns quantos euros, tendo em conta as centenas/milhares de que fomos esbulhados? Não me falem de Natal, quando esse fulano se permite dizer o que disse. Certamente não tem memória dos 10 mil milhões que o fisco deixou fugir para os paraísos fiscais entre 2011 e 2014, tal como não tem noção da gravidade em que deixou este país mais triste à beira-mar plantado, tal como referia em Novembro de 2016 o jornalista Nicolau Santos: “        É este o Estado que temos: sem poder para mandar naquilo que é verdadeiramente essencial para definir uma estratégia de desenvolvimento. E o que é espantoso é que quase tudo tenha acontecido em tão pouco tempo (entre 2011 e 2015, pouco mais de quatro anos) e que estivéssemos tão anestesiados que o não conseguíssemos evitar.”
Falem-me de Justiça e de Consciências Iluminadas.
Já enviei, aceitei e retribuí mensagens de Boas Festas. Sobretudo para os amigos que muito considero. Mas não me falem de Natal, quando percebo nesses gestos apenas uma circunstância de moda. Não me venham falar de Natal quando se consomem fortunas em decorações de rua e nas casas de cada um, apenas para umas horas de mesa e de companhia desfeita; não me falem de Natal quando o consumismo se concentra em figuras como a Popota ou como a Leopoldina. Não me venham falar de Natal, quando as compras e as trocas de presentes são a razão única de estabelecer um convívio de amigos e de famílias.
         Não me venham falar de Natal…por tudo isto!
    Falem-me de Amizade presente e desinteressada, falem-me de Justiça, dos verdadeiros valores do humanismo como a solidariedade e a humildade. O Natal é isto. Sobretudo isto! Mas também admito que, sendo eu um desalinhado, possa – no limite – estar a ver o mundo ao contrário!
António Bondoso
Jornalista  
 



2017-12-17

S. Tomé e Príncipe.
PRECISO E CONCISO…
…ou de como se vai matando a saudade!


PRECISO E CONCISO…
…ou de como se vai matando a saudade!

E foi preciso ter ido como foi importante ter nascido. E foi preciso crescer e foi importante viver; e foi preciso perceber e foi importante saber; e foi preciso sentir e importante partilhar. E foi preciso amar…muito mais do que a paixão. E foi preciso querer…muito mais do que parecer. E foi preciso perdoar…muito mais do que acusar. Foi preciso muito mais do que passar de raspão. Foi preciso não só ser, como importante saber estar; foi importante pescar as dores caídas no mar, como foi preciso remar contra marés que tardaram. E foi preciso entender como deveria ter sido. E foi preciso aceitar como tudo se passou. Só assim fará sentido todo um tempo de saudade. Importante é perceber que houve uma impossibilidade histórica, para podermos caminhar no sentido da memória. Se disso formos capazes, preenchendo as lacunas, só é preciso respeito de todos por cada um – como é fundamental uns e outros chegarem ao ponto comum. Daí ao ponto futuro, todo o trajeto é mais curto.
Foi preciso ter saído e fundamental ter voltado. Foi preciso ter partido e depois ter regressado. E foi preciso ter ido…tanto, como por lá ter nascido!


António Bondoso
Dezembro de 2017.