2017-08-30


A MODA DAS ALDEIAS…ou a subjetividade das mais bonitas.
Eu, por exemplo, gosto muito de Paçô ou de Baldos, no concelho de Moimenta da Beira.
É comum dizer-se hoje que vivemos numa aldeia global, mas a verdade é que – para além de todas as autoestradas da informação e da onda incessante de novas tecnologias que nos oferecem o planeta ao simples gesto de um clique – há sempre comunidades a descobrir. Algumas que se mantiveram esquecidas por motivos diversos, outras que foram sendo abandonadas pelos efeitos migratórios. Mais umas quantas, felizmente, descobertas em tempos recentes, despertaram o interesse de gente empenhada e motivada. Preservar um modo de vida com a qualidade impossível nas grandes metrópoles…
         Já referi comunidades mas há quem lhes chame povoados, pequenos povoados, aldeolas, povoações rurais ou pequenas povoações de organização simples e sem autonomia administrativa.
         Pois é destas localidades que muito se tem falado nas últimas semanas, particularmente a propósito da “eleição” das 7 mais, a sair de um lote de 49 selecionadas, e que serão anunciadas a 3 de Setembro. Não questiono métodos nem princípios…mas, como disse, gosto particularmente de Paçô e de Baldos, em Moimenta da Beira. Não é que essas tenham uma particularidade específica, mas simplesmente por uma questão de proximidade. E também pela história que as rodeia se tivermos em conta por exemplo Lamego e S. João de Tarouca. Baldos, porque os meus olhos a fixam sempre que paro por estas Terras do Demo de Aquilino Ribeiro; Paçô, porque por ali passo para aqui chegar…e até pela lembrança que me traz o habitual cumprimento dos habitantes da Ilha do Príncipe – lá longe no Golfo da Guiné, no meio do mundo, talvez com uma explicação idêntica à que se atribui ao Passô/Paçô daqui da Beira Alta. Passou por aqui o Bispo? Passou. E de Passô ou a Paçô foi apenas um passar. Também na ilha do Príncipe as pessoas se cumprimentam quando passam. 

Excerto de OS OITO CONCELHOS DE MOIMENTA DA BEIRA
A. Bento da Guia

Quanto a Baldos, como disse, é lá que se fixa o meu olhar quando – sentado na varanda – aprecio a paisagem imensa do espaço a que chamei a Terra das três montanhas, as quais não me deixam ver o Távora a correr para o Douro. E foi durante a construção da barragem no Távora nos anos de 1960 [Vilar de seu nome foi inaugurada em 1965] que Baldos também serviu de base logística – nomeadamente colocando a sua Escola ao serviço dos filhos dos trabalhadores no empreendimento. E depois há aquela nota de Monsenhor Bento da Guia, em Os Oito Concelhos de Moimenta da Beira [3ªedição, Agosto de 2001], sobre os tempos da reconquista de terras aos mouros onde se empenharam os chamados “presores godos”. Citando o Elucidário de Santa Rosa Viterbo, Bento da Guia recorda que esses presores “criaram vilas rurais, vilares e casais que deles receberam os nomes, como Leomil, Baldos, Alvite, Toitam, Mileu, Segões, Sever e Ariz”. 

Ant. Bondoso

Não é que estas aldeias tenham mais ou menos encanto do que outras agora mais nomeadas. Mas têm certamente uma história que eu não pretendo deixar passar em claro, destacando referências bibliográficas de muita valia. E, por outro lado, há até palavras a que emprestei alguma poesia não faz muito tempo:
FONTES DE LUZ…
                                                              
Baldos tem vinte luzes
Em perfeita noite de verão.

Conversam com as estrelas
Para confessar a paixão:
De brilhar olhando o vale
De luzir aquém dos montes
De queimar todas as fontes
Que incendeiam o coração!

As vinte luzes de Baldos
Projetam no meu olhar constelações
De tantos astros suspensos
Que o meu espírito inquieto
Viaja como se fora intruso
Nas asas cintilantes de um minúsculo avião.
==== Ant. Bondoso
Agosto de 2016.



António Bondoso
Jornalista
Agosto de 2017.

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