2014-02-28

NÃO HÁ ALMOÇOS GRÁTIS...


Almoçar com vista para a Rua das Carmelitas e extasiar-se com a fachada da Lello...ou desviar o olhar para a Torre dos Clérigos - no alto dos seus 250 anos - de onde se avista o jardim das oliveiras, é um raro privilégio de um pensionista que já viu reduzidos os seus proventos em mais de um terço, tendo descontado 43% todos os meses de 35 anos. Embora haja a certeza de serem cortes a título definitivo - não há a coragem dos governantes para o dizer claramente neste período antes das eleições.  


É este tipo de portugueses que o país dispensa sem custos morais ou éticos.


António Bondoso
Fevereiro de 2014

PARA O JORNAL "CORREIO BEIRÃO"...entrevistei o Presidente da Câmara de Lamego, Francisco Lopes.


LAMEGO PODERIA SER A CIDADE MAIS IMPORTANTE DA REGIÃO SE HÁ 100 OU HÁ 50 ANOS ISSO TIVESSE SIDO ESTABELECIDO COMO UM DESÍGNIO.

Tenciona cumprir o mandato até ao fim e vê que Lamego é uma das cidades mais conhecidas e reconhecidas do país e uma “marca” que se destaca pelo património. Francisco Lopes já vai no seu terceiro mandato à frente dos destinos da Câmara de Lamego e diz ter em carteira projetos para mais 20 anos. Liberal, membro do PSD e apoiante de Passos Coelho – que espera ver ganhador em 2015, mesmo que perca as “europeias” por margem mínima - Francisco Lopes critica os governos de Sócrates por não terem construído o IC26, afirma que as portagens na A24 prejudicam o desenvolvimento da região e considera desastroso o modelo de gestão da «Águas de Portugal» – defendendo mesmo que a solução da água, no nosso país, não passa por uma gestão estatal e centralizada.
                Na entrevista concedida ao Correio Beirão, Francisco Lopes admite algumas dificuldades de afirmação do novo hospital de Lamego uma vez que o objetivo inicial – servir a região de Trás-os-Montes e Alto Douro, com cerca de 400 mil habitantes – não tem merecido a adesão de muitas áreas que preferem a oferta de outros hospitais.
                FL – Há que aumentar a oferta e afirmar o hospital de Lamego como um dos melhores hospitais de cirurgia de ambulatório do país. Não há outro caminho, ou o enorme investimento que aqui foi feito terá sido em vão. Conseguimos que este hospital de proximidade tivesse um serviço de medicina interna e 30 camas de internamento de doentes agudos, mas é ainda insuficiente pois, normalmente, a taxa de ocupação é de 150%, com mais de 12 ou 15 doentes internados nas urgências. A oftalmologia está a trabalhar muito bem, mas tem necessidade de mais um cirurgião com urgência.
                CB – Não poderá considerar-se, então, um paradoxo projetar-se uma outra unidade hospitalar privada nas instalações do antigo hospital?
                FL – Não é um paradoxo. Outra unidade com valências não conflituantes faz todo o sentido. O problema é que as exigências legais para o licenciamento são tão grandes que estão a dificultar o projecto…estamos a acompanhar a situação.
Não é fácil combater o desemprego quando a economia está sujeita a um esforço brutal de ajustamento com vista à redução da dívida e do défice.
                CB – Lamego é um dos concelhos com mais elevada taxa de desemprego no país. Atribui o facto apenas à situação conjuntural…ou é uma questão estrutural e com raízes?
                FL - O desemprego no concelho e na região tem muito de estrutural. Mais de metade destes desempregados estão nas 17 freguesias rurais, onde é quase impossível encontrar emprego na indústria ou serviços e a agricultura é quase a única alternativa. O desemprego de licenciados está também a subir, sendo já mais de 300, pouco mais de 10% do total desempregados e que é um fenómeno comum a todo o eixo Lamego/Régua/Vila Real.
CB - Perante a atual situação do país…que iniciativas é que o presidente da câmara já tomou para minimizar o problema…quer localmente, quer junto do governo central?
FL - O desemprego combate-se essencialmente com a dinamização do tecido económico, para que produza emprego e riqueza. Com a simplificação de procedimentos para que os investidores tenham vontade e estímulo para continuar a investir. Com informação, com incentivos directos, com a redução de taxas, com condições de financiamento favoráveis, com ecos infraestruturados para receber novas empresas. E também com infra-estruturas e equipamentos públicos de qualidade, que tornem a cidade e o concelho mais atractivo. E combate-se, também, com a qualificação da população, para que possa responder aos desafios de um mundo globalizado e em permanente mudança.
CB - Está satisfeito com as políticas do governo central para combater o desemprego?
FL - Não é fácil combater o desemprego quando a economia está sujeita a um esforço brutal de ajustamento com vista à redução da dívida e do défice. No interior, onde não há indústria ou serviços, a situação é ainda mais gravosa do que nas grandes cidades. E por isso tenho defendido a importância da manutenção de emprego público no interior e, nesse particular, as políticas do governo, diga-se que deste e de anteriores, não têm sido as mais favoráveis.
A alteração do cálculo dos limites de endividamento e a extinção da Lamego Convida irão provocar um agravamento do endividamento do município, que é apenas contabilístico.
CB - E é provável que – com o encerramento da “Lamego Convida”…o número de desempregados aumente, claro!
FL - De forma nenhuma! Nem o município, nem a Lamego Convida, tem um único funcionário que não seja necessário ao exercício das suas funções, o que facilmente se compreende. A Lamego Convida gere equipamentos públicos, nomeadamente piscinas, pavilhões desportivos, o estádio e o teatro Ribeiro Conceição, que não funcionam sem essas (ou outras) pessoas. Esses trabalhadores manterão no município, depois do necessário ajustamento do vínculo contratual, exactamente as mesmas funções que tinham na Lamego Convida.
CB - Quanto à “dívida” do município… considera que é aceitável e controlável ?
FL - Sim, o endividamento municipal está perfeitamente controlado, mas a alteração do cálculo dos limites de endividamento e a extinção da Lamego Convida irão provocar um agravamento do endividamento do município, que é apenas contabilístico.
CB - Qual a contribuição do pavilhão multiusos para essa dívida?
FL - Para já o multiusos ainda não contribui para a dívida do município porque está na Lamego Renova. Virá com a extinção da Lamego Convida, mas isso não altera nada, pois os encargos com juros e amortizações já estão previstos no orçamento do município e da Lamego Convida.
CB - Tem sido um problema e um mau negócio para a Câmara de Lamego!
FL - Tirando o problema construtivo, que decorreu de um erro de projecto e está praticamente solucionado, nada afastou o empenhamento e a importância que atribuímos a esse equipamento que será único e diferenciador na região.
Fornecemos aos nossos munícipes água de excelente qualidade e quase tão cara como o vinho do Douro
CB - Para diminuir a dívida…não pensa aumentar os “impostos” ou as taxas municipais- como o IMI ou as taxas de resíduos …ou o preço da água?
FL - Não. O IMI tem o mesmo valor - 0,4% - desde que foi criado e assim se manterá. Quanto à água e aos resíduos os valores cobrados não são taxas, nem impostos e por isso não podem depender das necessidades financeiras do município.
CB - Pelos vistos…Lamego possui uma água de excelente qualidade!
FL - Exactamente! Fornecemos aos nossos munícipes água de excelente qualidade e quase tão cara como o vinho do Douro, pois pagamos às Águas de Trás-os-Montes 73 cêntimos por metro cúbico.
A cisterna do castelo de Lamego é um monumento de facto e de direito! É monumento nacional classificado conjuntamente com a torre do Castelo e considero o seu resgate e abertura ao público como uma das grandes vitórias da minha gestão.
CB – Voltando à “dívida”, ligeiramente desviada pelo curso da água, que projetos é que foram prejudicados ou ficaram na gaveta?
FL - Não ficou projecto nenhum na gaveta! Ao fim de 8 anos e de mais de 80 milhões de euros de investimentos e tantos projectos executados, temos em carteira projectos para mais 20 anos! Todos os que não foram executados irão sê-lo mais tarde ou mais cedo... biblioteca municipal, academia das artes, complexo desportivo de Lamego, circular externa de Lamego, centro interpretativo do entrudo e da máscara de Lazarim, requalificação do escadório e da mata dos remédios, pavilhão de Penude, parque urbano de Lamego, parque fluvial do bairro da Ponte, ampliação das instalações da ESTGL, mais regeneração urbana, mais habitação social (reabilitar Lara arrendar), enfim, uma lista infindável de projectos!
CB - Entretanto, a Câmara Municipal adquiriu a «cisterna» no terreno adjacente ao Castelo de Lamego…
FL - A câmara não comprou a cisterna. Comprou, por uns milhares de euros que não posso precisar de memória, o terreno envolvente à cisterna e sobre o qual pendia um legítimo com décadas, impedindo o acesso e a visita da cisterna.
CB - Esse “monumento”…podemos dizer assim, não deveria ser do domínio público e estar “classificado”?
FL - A cisterna do castelo de Lamego é um monumento de facto e de direito! É monumento nacional classificado conjuntamente com a torre do Castelo e considero o seu resgate e abertura ao público como uma das grandes vitórias da minha gestão. É uma das mais imponentes e bem conservadas cisternas do país e um orgulho para todos os Lamecenses.
Sejamos claros, todos os governos são centralistas e nós temos que ter argumentos, capacidade e coragem de reivindicar para a região os fundos que Bruxelas nos destina. Esses fundos são para o interior, não são para Lisboa!
CB - Está satisfeito com as explicações que o governo tem dado sobre a aplicação dos fundos comunitários?
FL - Que fundos? Os do próximo quadro comunitário? Ainda há muitas matérias para discutir. Tenho acompanhado o assunto com o presidente da CCDR-N e com o ministro e secretário de estado do desenvolvimento regional, com quem aliás ainda estive na passada semana. O secretário de estado virá à CIM Douro no dia 5 de Março. Temos o montante para a região norte - 3.320 milhões de euros- mas falta o modelo de governação, nomeadamente a intervenção das CIM e critérios de transparência na gestão dos fundos que ficam centralizados em Lisboa.
CB - O que pensa ser necessário para que haja, de facto, uma política de coesão… sabendo que o interior tem sido ou continua a ser “esquecido” pelo poder central?
FL - Sejamos claros, todos os governos são centralistas e nós temos que ter argumentos, capacidade e coragem de reivindicar para a região os fundos que Bruxelas nos destina. Esses fundos são para o interior, não são para Lisboa! Também temos que ter a noção de que os fundos são para ser investidos em infra-estruturas necessárias e em equipamentos produtivos. Fazer infra-estruturas e equipamentos que não têm procura não resolve problema nenhum, em lado nenhum do mundo! E há opções erradas, ou pelo menos discutíveis, mesmo dentro da região. Porque é que o governo de Sócrates fez o IC5 e não fez o IC26? O investimento era o mesmo, mas os resultados seriam seguramente diferentes. E mudou alguma coisa ao despejar milhares de milhões de euros na A4, IC5 e IP2, de uma assentada, numa região onde tradicionalmente o investimento público é diminuto? Não mudou. As políticas de coesão exigem ajustamento à realidade e portanto dinheiro, mas também diálogo com os actores locais. Os municípios e as CIM estão cá para isso.
CB – Mas defende a construção do IC26?
FL - Já o disse claramente! E acho que não havendo dinheiro para o construir será indispensável começar pelo menos com alguns troços ou variantes a aglomerados urbanos. A EN 226 está transformada numa via urbana, como passadeiras, semáforos, passeios de peões, casas e lojas à face da estrada... um caos!
Tenciono cumprir o mandato até ao fim, mas não é tabu. Se tiver que sair antes sairei e com a consciência do dever cumprido.
CB - Lamego poderia ter todas as condições para se assumir como a cabeça de uma região de futuro, capaz de ombrear com Viseu. Não está interessado nisso… ou a região não tem mesmo capacidade económica – apesar do turismo – para esse desafio?
FL -Lamego poderia ser a cidade mais importante da região se, há 100 anos, ou há 50 anos, isso tivesse sido estabelecido como um desígnio e todas as condicionantes fossem favoráveis. Com a progressiva perda de população e de serviços para as capitais de distrito, há muito que o papel de Lamego se alterou. Não deixou de ser importante no contexto regional, simplesmente é diferente.
CB - Tem pena de, no final do seu terceiro mandato, não ter conseguido colocar Lamego, digamos … na “agenda política ou económica” do país? Ou pelo menos a um nível mais elevado? 
FL - Muito pelo contrário, vejo com  satisfação que Lamego está sempre na agenda regional e nacional. É uma das cidades mais conhecidas e reconhecidas do país e uma "marca" que se destaca pelo património, pela cultura e pela maior e mais qualificada oferta turística da região. E esse reconhecimento é igualmente institucional e nos meus mandatos assumimos a presidência da associação de municípios com centro histórico, que é a segunda maior associação de municípios do país e que tem sede em Lamego, a presidência da assembleia geral da associação de municípios do vinho, de que somos fundadores, e neste mandato a presidência e lugares de direcção na associação de municípios do Douro Sul e na Beiradouro, entre muitas outras. Marcamos presença igualmente na comissão permanente do conselho regional do norte da CCDR e agora no CES - conselho económico e social, órgão de consulta do governo para a concertação social, representando os municípios do norte. E a nível internacional já assumimos a presidência da associação ibérica de municípios ribeirinhos do Douro, estamos na direcção da RECEVIN - rede europeia de cidades do vinho, que agrega mais de 800 cidades da Europa e estamos no comitê das regiões da união europeia em representação dos municípios portugueses.
CB - É que há rumores de que o Senhor Presidente poderá não levar este mandato até ao fim. Isso é verdade ?
FL - Já respondi a isso. Tenciono cumprir o mandato até ao fim, mas não é tabu. Se tiver que sair antes sairei e com a consciência do dever cumprido.




UCRÂNIA...UCRÂNIA!



UMA JANELA PARA O MUNDO
***** O Poder – essa luz apetecível que gera atitudes tão admiráveis quanto violentas e despóticas!
Na Ucrânia, a luta pelo dito – e numa perspetiva de retorno à influência dos tempos da “Guerra Fria” – levou uma mulher à prisão, pelo simples facto de tomar uma opção mais “ocidentalizada” para o país. Reposto o “equilíbrio” para o lado russo, o país entrou na decadência e na miséria, o que originou – naturalmente – uma reação de descontentamento generalizada. O problema é que o povo da Ucrânia se viu entre dois fogos, sem ter propriamente a noção de qual é que devia apagar primeiro. E a ajuda necessária tardava a chegar, quer de um lado, quer do outro. A “corda” foi de tal modo esticada…que acabou por partir para o lado da violência. O problema não é simples, como já tive ocasião de realçar, podendo mesmo chegar à divisão do país. Só nessa perspetiva se pode entender a “fuga” do Presidente para a região da Crimeia, onde se encontra a base naval russa de Sebastopol. Com a sua fuga, poderá eventualmente escapar a um julgamento em Kiev, mas não é crível que, aí e daí, possa organizar e dirigir uma força de resposta ao poder que acaba de nascer na Praça da Independência. Tão improvável quanto a estranheza da quase “omissão” dos militares durante o apogeu da luta nas ruas do país. E curioso é também o facto de a mulher que foi o “rosto” da luta pró-ocidental dizer agora que não está interessada no “Poder”. Ela está interessada. O que não lhe convém é assumi-lo nesta altura de perfeito “suicídio” político. Alguém terá que fazer esse papel…até que a situação esteja definida ou – pelo menos – reunidas as condições para saber de que lado chegará o dinheiro! A Rússia prometeu mas não o tem [e por isso é que não chegou ao povo, ou então foi desviado pelo poder que, entretanto, caiu] e a União Europeia só o quer “emprestar” quando o Poder estiver consolidado. No “intervalo”…o povo é que paga!
A.B.  


António Bondoso
Fevereiro 2014


***** Foi há 20 anos!
           Mas há sempre uma memória. 



Luís Bondoso. Ao centro - deitado - ao lado do g.r. Zé Maria.

HÁ VINTE ANOS…
… e eu não estive presente. Dói-me por isso. Muito. Não faço da culpa um caso dramático, mas persiste a dúvida de saber se teremos feito o possível…e da forma mais competente. Teria sido possível contornar o “sistema”? A múltipla resposta não permite uma conclusão definitiva e isso, em boa parte, remete para uma saudade maior.  
A saudade da alegria da presença, a saudade do sentido de humor e do riso maroto…a saudade de quem, por obra do destino, se viu desenraizado nas “raízes” e encostado a uma solidão – embora não permanente – mais espiritual do que física. 
E partiu…mesmo antes de eu partir de novo. Ao Pai que foi!
VIAJAR…(*)
Ali aonde se vai
Fica a saudade de chegar
Esperança de poder voltar
A ver partir.
Aqui onde se chega
Não cabe a imensidão
De ser, estar no coração
Alegre vontade de sorrir.
António Bondoso – 28 de Fevereiro de 2014
(*) – Em “…Da Beira! Alguns Poemas e Uma Carta para Aquilino”. Atelier, 2008, António Bondoso. Pg.19.


António Bondoso.
28 Fevereiro 2014.

2014-02-22

O QUE SERÁ DO MUNDO?



UMA JANELA PARA O MUNDO
Pela sua importância nos desenvolvimentos futuros na cena internacional, permito-me destacar a complexa situação socio política que se vive na Ucrânia, a dar a ideia de que, afinal, não houve “O Fim da História” e que o clima da Guerra Fria regressou, mesmo depois de ter acabado duas vezes: em 1989 e em 2001.   


LEGENDA DA FIGURA

Em dois meses, o movimento de protesto ucraniano está curado. A violência resultou em várias mortes, e parece dar poder.
Com base nesta figura do Courrier International, pode imaginar-se uma zona de que a Rússia não poderá abrir mão – a Crimeia (nuclearizada) e a base naval de Sebastopol – na perspetiva remota, mas possível, de uma divisão territorial. Veremos até onde chega o bom senso da UE e dos EUA, não alimentando demasiado a fogueira se não tiverem capacidade operacional para ir até ao fim, em caso extremo; e até onde poderá ceder a Rússia, sobretudo na questão do gás – que é vital para a Ucrânia, também por ser território de passagem para outros países da Europa Central.
A.B.



2014-02-21

ENTREVISTEI PARA O "CORREIO BEIRÃO"...O PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE MOIMENTA DA BEIRA.

Foto de A.Bondoso.
MOIMENTA DA BEIRA RECLAMA MAIOR COESÃO TERRITORIAL E O FIM DO “BLOQUEIO POLÍTICO-ADMINISTRATIVO”

Preocupações sociais permanentes para manter a paz social – imprescindível a uma sociedade inclusiva e com futuro – poderá ser a maior “obra” deste segundo mandato de José Eduardo Ferreira como Presidente da Câmara Municipal de Moimenta da Beira, numa altura em que aplaude o investimento na ligação ferroviária Aveiro-Vilar Formoso, mas em que reclama igualmente a prioridade na construção do IC26.

            Na entrevista concedida ao Correio Beirão, José Eduardo Ferreira começa por salientar os “desafios muito complexos que colocam uma grande exigência a todos os atores, públicos e privados” – numa alusão à capacidade de resposta que o município e a sociedade devem encontrar para garantir o bom funcionamento das infraestruturas  que o concelho de Moimenta da Beira tem vindo a “receber” do poder central. Quer no âmbito da saúde e da educação, quer agora no “caso da Justiça” o processo deixa entender quase que uma nova centralidade. 
               
JEF - Temos vindo a preparar-nos para garantir uma resposta de elevado nível, que apenas se consegue com a participação empenhada de todos os atores e de todos os profissionais. A partilha dos meios, entre instituições, sem olhar tanto às competências formais de cada uma delas, mas mais à sua capacidade de contribuir para a resposta às necessidades da população, seja apenas de Moimenta da Beira seja da região que serve é uma condição essencial, para o sucesso das respostas. Nunca teremos, até pela natureza evolutiva das exigências, toda a capacidade requerida, mas também não desistiremos de a procurar afincadamente. A utilização racional de todas as infra-estruturas é uma exigência até cívica, dos tempos que correm. Na saúde, por exemplo, temos que ter o maior cuidado para não permitir uma degradação do serviço público por todos os impactos negativos que teria, diretamente, na vida das pessoas, nem permitir que se criem constrangimentos de acessibilidade à referenciação para o Hospital de Viseu.

CB - A que fatores atribui esta movimentação?


JEF - A centralidade sub-regional de Moimenta da Beira não é assim tão nova, devendo-se a um grande esforço desenvolvido por muita gente, ao longo de muitos anos. Por ventura haverá agora uma nova visão integradora. O que nos compete fazer é trabalhar em conjunto com todos, dando corpo a um novo conceito de desenvolvimento de base regional, onde todos temos uma contribuição séria e indispensável, que será, do meu ponto de vista, o único caminho para manter este interior vivo e viável. 

                            “É preciso que sejamos capazes, alguma vez, de resolver este bloqueio.”


CB - Poderá dizer-se que Moimenta da Beira está bem inserida na Região do Douro Sul…ou o Presidente da Câmara de Moimenta da Beira prefere uma outra situação, por exemplo ingressar na Dão Lafões? É um problema antigo…dando quase a ideia de estarmos numa chamada “terra de ninguém”.


JEF - Há muitos anos que Moimenta da Beira sofre o chamado bloqueio político-administrativo, na medida em que, para além das questões culturais que nos ligam a Viseu e ao Sul, temos afinidades de índole política ao nosso círculo eleitoral – Viseu, que não podemos negligenciar, mas ao mesmo tempo ligações administrativas, para quase todos os efeitos, ao Norte. É preciso que sejamos capazes, alguma vez, de resolver este bloqueio. Foi nesse sentido que recentemente a Assembleia Municipal aprovou, por uma expressiva maioria, uma moção que pretendia resolver definitivamente este bloqueio. Como sabemos, a Assembleia da República não integrou esta pretensão na reforma administrativa, o que manteve inalterada a situação de Moimenta da Beira, integrando a Comunidade Intermunicipal do Douro, onde se encontra num elevado nível de partilha de projetos e preocupações, mas também de grande esperança no futuro, tendo o maior apreço e respeito por todos os parceiros institucionais e sentindo-se, igualmente, um município muito respeitado inter-pares.

“Estão redondamente enganados os que acham que o investimento em infraestruturas, nomeadamente rodoviárias, está concluído e não resultarão benefícios económicos, nomeadamente para as regiões da coesão, deste tipo de investimento.”


CB -  Moimenta da Beira acompanhou a iniciativa de vários municípios das regiões de Viseu e de Aveiro (no âmbito da CCRDN)...no sentido de reivindicar o reforço da ligação ferroviária entre Aveiro e Vilar Formoso? E nessas reuniões não foi abordada a construção do IC26? Ou já não é considerado vital para Moimenta da Beira e os outros concelhos abrangidos?


JEF - Todas as ligações ferroviárias previstas são positivas e podem ajudar a desenvolver a economia regional e nacional, disso podendo beneficiar Moimenta da Beira e a região em que se insere. Posso até compreender, e aceitar, os critérios utilizados pelo grupo de trabalho para as Infraestruturas de Elevado Valor Acrescentado, se lhe tiver sido pedido um estudo que apenas tenha em conta a competitividade da nossa economia. A minha pena é que os resultados desse estudo esquecem completamente a coesão territorial, e não havendo medidas neutras, o investimento previsto em infraestruturas vai, uma vez mais, agravar as desigualdades já gritantes entre o interior e o litoral.
Estão redondamente enganados os que acham que o investimento em infraestruturas, nomeadamente rodoviárias, está concluído e não resultarão benefícios económicos, nomeadamente para as regiões da coesão, deste tipo de investimento.

O IC 26 é um bom exemplo das prioridades que deviam manter-se no próximo Quadro Estratégico Comum. Não se trata apenas de uma prioridade de Moimenta da Beira, bastaria lembrar o documento que foi subscrito por todos os presidentes das câmaras do Douro Sul onde se indica esse investimento como sendo, para todos, o prioritário. Esta prioridade compreende-se muito bem quando sabemos que pode constituir, para as nossas empresas, uma porta de entrada no mercado europeu, ao mesmo tempo de constituirá uma ligação fácil de entrada de turistas no Douro Património Mundial.

Não tenho nenhuma dúvida que, a manter-se o documento nos termos em que é conhecido, do ponto de vista das infraestruturas – essenciais ao desenvolvimento regional – este instrumento será mais uma machadada na coesão territorial. Será que ainda há quem acredite em países desenvolvidos com territórios tão desequilibrados? Será que podemos continuar a prescindir do contributo económico de tão vastas áreas do território nacional? Ou somos capazes de estabelecer compensações sérias com outros instrumentos de financiamento, ou estamos a cometer uma grande imprudência, com impactos muito negativos, no futuro.

“Não nos pouparemos a esforços para garantir, neste mandato, a criação de condições para a construção do aproveitamento hidroagrícola de Moimenta da Beira, infraestrutura imprescindível ao desenvolvimento do nosso setor agro frutícola.”


CB - Embora não tendo feito promessas, que obras fundamentais é que poderão marcar este seu segundo mandato...partindo do princípio que nem tudo foi cumprido no anterior?


JEF - Quero que algumas das obras que marquem este mandato não sejam obras, no sentido clássico. Temos preocupações sociais permanentes, de muito curto prazo, dadas as dificuldades por que passam hoje muitas famílias. Estas respostas, organizadas no âmbito da rede social municipal, com todos os parceiros, constituem uma almofada determinante na vida de muitas famílias. Este aspeto é hoje duma enorme importância, até ao nível da manutenção da paz social, imprescindível numa sociedade inclusiva e com futuro. Temos que ser capazes de ajudar a manter as condições mínimas de dignidade a todas as pessoas, para poderem continuar a acreditar que são capazes de melhorar a sua própria vida, e a dos outros.

É muito importante que contribuamos para criar condições de igualdade de acesso aos bens públicos, como a educação ou a saúde, não deixando perder uma geração, por dificuldades económicas que a conjuntura fará desaparecer. A aposta que hoje fazemos na educação e na cultura, como forma de afirmar a nossa diferença no mundo global é uma condição essencial ao nosso desenvolvimento, no futuro. Bem sabemos que são apostas de longo prazo, por vezes difíceis de compatibilizar com enormes carências de curto prazo, mas este exercício de equilíbrio é determinante.

Não deixaremos de fazer apostas em obras de betão, nomeadamente no que respeita à promoção de melhores condições para o desenvolvimento e reforço do nosso tecido empresarial. Concretamente tentaremos melhorar as condições do nosso parque empresarial e criaremos melhores condições à instalação de empresas. Temos bem consciência da necessidade destes investimentos, destinados à competitividade da nossa economia, mas seremos cuidadosos nas escolhas e na alocação dos meios financeiros que possam, especialmente, constituir contrapartida municipal à utilização de fundos comunitários.

Não nos pouparemos a esforços para garantir, neste mandato, a criação de condições para a construção do aproveitamento hidroagrícola de Moimenta da Beira, infraestrutura imprescindível ao desenvolvimento do nosso setor agro frutícola.

Espero que possamos também investir de forma mais consistente na criação de condições para o nosso desenvolvimento turístico, nomeadamente na Serra de Leomil, na bacia do Paiva e na Barragem do Vilar.

“Creio que me compete mais almofadar, junto das pessoas e das organizações, os erros do governo central do que contestar as medidas tomadas. Reconheço no entanto que por vezes a contestação é imprescindível.”


CB - Mais recessão a nível nacional - ou as medidas mais restritivas que se anunciam - vão exigir ao seu executivo um maior empenhamento e uma apertada gestão de recursos para minimizar os custos, sobretudo ao nível do emprego. A Câmara vai despedir funcionários?


JEF - Não faremos qualquer despedimento. A redução de efetivos e dos custos com pessoal, para além dos ganhos já conseguidos, por exemplo em horas extraordinárias e outras prestações, far-se-á de forma progressiva, apenas na medida em que forem ocorrendo as aposentações dos colaboradores. Não estamos disponíveis para qualquer intervenção drástica que colocaria em causa as famílias dos colaboradores. O que temos feito, e continuaremos a fazer, é um grande esforço de redução de custos e de controle muito apertado da despesa, o que tem levado a uma redução muito significativa do nosso endividamento. Progressivamente, mas de forma constante e determinada, estamos a criar condições de estabilidade financeira municipal, que permita maior liberdade de escolha aos gestores do futuro. Continuamos hoje muito condicionados por uma situação financeira muito grave, mas compete-nos dar esta resposta no tempo mais difícil e é isso que faremos, com a ajuda e compreensão de todos. 


CB - Até que ponto poderá ir a sua contestação às políticas do governo central?


A minha função é muito mais de construir do que de contestar. Creio que me compete mais almofadar, junto das pessoas e das organizações, os erros do governo central do que contestar as medidas tomadas. Reconheço no entanto que por vezes a contestação é imprescindível. Tendo a fazê-la, e faço-a, nas oportunidades que tenho para contestar institucionalmente as políticas erradas, e têm sido muitas, deste governo. As dificuldades existentes, que reconheço serem muitas, não podem servir para justificar erros graves de governação. Pelo contrário, o governo tem que ser, como temos que ser todos, mais cuidadoso com as decisões que toma. Tenho muita pena que nem sempre assim seja.

“António Guterres seria um excelente Presidente da República.”

CB – Apenas mais duas notas sobre a “política nacional”. Ainda estamos longe das eleições Presidenciais...mas há já quem tenha lançado "balões de ensaio". ANTÓNIO COSTA poderá ser um dos seus candidatos? Ou António Guterres?

JEF - António Guterres seria um excelente Presidente da República. A primeira condição é que este português notável queira dar este contributo. Poderia certamente ganhar a eleição.

CB - Também é dos que tem dúvidas que ANTÓNIO JOSÉ SEGURO chegue incólume às eleições de 2015 para a AR?


JEF - Não sei se precisa de chegar incólume, nem sequer se é útil que chegue nessa condição. Os líderes não se fazem de facilidades. O que me parece muito importante é que apresente um projeto alternativo sólido e credível para o país, como julgo estar perfeitamente ao seu alcance e do Partido Socialista. Mais do que possibilidades, António José Seguro tem a obrigação de apresentar em 2015 um projeto ganhador e que responda às reais necessidades de Portugal. 

================== A.Bondoso.
Jornalista – CP359.
Fevereiro de 2014.


Foto de A.Bondoso.
António Bondoso
Fevereiro de 2014.
Podendo parecer estranho que a "janela" de hoje ( No Correio Beirão) não fizesse referência à situação dramática vivida na Ucrânia...recordo que tal assunto já mereceu uma referência [quase premonitória] num texto anterior.



UMA JANELA PARA O MUNDO…
Pela memória que me tem chegado, sobretudo pelos livros que tratam da História, penso que o mundo sempre foi assim: tão quezilento e bárbaro quanto solidário e honesto. No fundo…tal como aquela situação do lençol demasiado curto para uma cama tão grande – tapa num lado, destapa no outro!
***** Interessante, quiçá promissora, a notícia de que – pela primeira vez – uma mulher, jornalista, ascende ao cargo de Chefe de Redação num jornal da Arábia Saudita. Trata-se de Somayya Jabarti e foi nomeada chefe de redação do 'Saudi Gazette'.
Igualmente interessante o facto de se ficar a saber que o jovem sociólogo Mirco Cordeiro, que está há 15 anos em Gales, coordenou um programa de integração social de jovens, oriundos de outros países, recorrendo às novas tecnologias. Quando enviou à NASA, em 2012, um e-mail propondo uma colaboração do grupo de jovens com os quais trabalhava num projeto social, perto de Cardiff, no Reino Unido, Mirco Cordeiro não tinha expectativas muito altas.
***** Num outro sentido, ficando o lençol bem mais curto, podemos colocar a situação explosiva que se vive na Venezuela – com golpes cada vez mais baixos, à medida que se acentuam os problemas económicos e sociais – e a triste realidade que é a Coreia do Norte. Um relatório da ONU fala de tortura, escravatura, violência sexual, discriminação social e de género, repressão política, perseguição política, execuções. É tudo frágil, mesmo que certos iluminados nos procurem dizer o contrário.
***** E esse terrível flagelo que é a falta de água potável em África – continente que vai ter em 2050 cerca de 25% da população mundial. Nesta altura, já há 400 milhões de pessoas com dificuldades de acesso a esse bem precioso – tema debatido esta semana na Costa do Marfim, no Congresso da Associação Africana de Água.

A.B.
A MINHA CRÓNICA DE HOJE NO JORNAL CORREIO BEIRÃO. RUMORES...


RUMORES…
… a propósito de políticos e de politiqueiros – coisa que não se estranha, mas entranha, nesta mui antiga periferia da Europa.
            Tomando por certa a ideia de que a política não é apenas uma arte, mas também uma ciência, não podemos deixar de estranhar a evidência da falta de uma sólida cultura política – quando os atores hodiernos praticamente nasceram nas cadeiras das “juventudes partidárias”. A “escola” é má, portanto, sendo imprescindível o recurso aos curricula universitários sérios na Ciência Política. E não me venham com a treta das chamadas “universidades de verão” promovidas exatamente por essa má escola, escorada nos feudos partidários. O que temos, perfeitamente visível nos últimos anos, é uma série inesgotável de pseudopolíticos, politiqueiros, demagogos, ignorantes – que falam de tudo e a propósito de tudo, ora pontificando no ministério dos submarinos, ora traçando orientações na diplomacia do pastel de nata, ora ainda ditando leis no ministério das cervejas.
            Vale a pena reler o Prof. Adriano Moreira sobre os limites éticos e sobre a “multiplicidade de convicções morais e posições éticas na Europa no que toca à variedade de essenciais problemas sociopolíticos que estamos a enfrentar”. É uma questão fundamental para olhar este “mundo sem bússola” como refere o Professor.
            Não pretendendo colocar à cabeça de Pedro Passos Coelho toda a gamela de críticas de que é merecedor, basta olhar para a miopia galopante e arrogante de Paulo Portas, que vê na incerteza das exportações – demasiados fatores a ter em conta – o seu porta aviões de salvação do país. Ora, se olharmos com a atenção devida para recentes declarações do austríaco Engelbert Stockhammer – professor na Universidade de Kingston – “cortar salários e tentar exportar não é uma estratégia para se sair da crise”. Também ele economista, mas mais do que isso – investigador em economia política na Universidade de Massachusetts – Stockhammer mostra a sua deceção pelo facto de os países do sul, nomeadamente a Grécia e Portugal, não unirem forças e arranjar alternativas ao poderio alemão. Tal como o economista chefe do Banco Central Europeu, quando afirma que o problema não foi demasiada Europa mas pouca Europa.
            Por outro lado, não deixa de ser preocupante ver as permanentes hesitações do maior partido da oposição. Seguramente motivadas pela impreparação da liderança. Pasme-se ao ler a mais recente tirada de António José: o que me separa do governo é a estratégia orçamental! Só? É muito pouco para se afirmar como alternativa. Seguro não se pode dar ao luxo de permitir que estas frases – invariavelmente, depois, retiradas do contexto – provoquem dúvidas no eleitorado. E é precisamente o que tem acontecido, de acordo com os rumores das consultas de opinião.  Mais uma vez, a questão da deficiente formação política e da falta de cultura política.
António Bondoso
Jornalista – CP 359.
   
ARY DOS SANTOS EM MOIMENTA DA BEIRA...

Foto de A.Bondoso (Telefone celular)
ARY DOS SANTOS EM MOIMENTA DA BEIRA...
Faço meu o comentário de minha mulher Maria do Amparo Pontes Bondoso. Apenas acrescento um pequeno pormenor. 
"Hoje tive a felicidade de estar presente no lançamento do livro "ARY DOS SANTOS A VOZ DA RESISTÊNCIA À DITADURA DE SALAZAR" de CECÍLIA AMARAL FIGUEIREDO, Chiado Editora, 2014. 
Um momento único na Biblioteca de Luís Veiga Leitão, no Agrupamento de Escolas de Moimenta da Beira, concelho onde nasceu a autora. A obra é um excelente trabalho académico - dissertação de mestrado em Estudos Luso-Afro-Brasileiros, na Universidade de Massachusetts-Dartmouth (EUA).
Ary, um poeta que a crítica pouco refere e o povo tanto acarinha."
===Eu recomendo, tanto mais que se aproxima o 25 de Abril - 40º aniversário. 
===E já agora...uma leitura paralela às relações entre O PODER E O POEMA, de A.Bondoso. Edições Esgotadas, 2012. 

Foto de A.Bondoso (Telefone celular).


António Bondoso
Fevereiro de 2014.

2014-02-14

O MEU OLHAR SOBRE AS QUESTÕES INTERNACIONAIS. NO JORNAL
 "CORREIO BEIRÃO"



UMA JANELA PARA O MUNDO.
***Entre uma União Europeia em “desagregação” – ou com uma saúde muito débil – e um emergente Brasil em compasso de espera económico, para além da convulsão social, o mundo continua a oferecer contrastes que importa assinalar. Enquanto na Síria, os donos do veto no Conselho de Segurança da ONU vão tratando a tragédia apenas com algumas compressas e umas gotas de betadine, no outro lado do mundo os chineses da República Popular e os da Formosa/Taiwan decidem dar mais um passo para um entendimento futuro que – inevitavelmente – irá conduzir à “reunificação” da Grande China. Não será certamente para amanhã e é provável que demore ainda muitos anos. Mas o tempo não é um problema para a China – senhora de uma invejável Cultura milenar. Já integraram Hong Kong e Macau, após séculos de domínio estrangeiro, faltando Taiwan – apenas desde os anos 50 do século XX o refúgio das forças nacionalistas que seguiram Chiang Kai-Shek, após Mao Tsé Tung e os comunistas haverem tomado o controlo da China continental em 1949.
***Pelo contrário, no Brasil, tempo é o que não sobra a Dilma Rousseff para tranquilizar a ferida “classe média” e travar a contestação. É que, já no Verão, pode ser afetado gravemente o campeonato mundial de futebol [com prejuízos financeiros significativos, sobretudo no turismo] e, para Outubro, estão previstas eleições que poderão não corresponder aos objetivos de Dilma. A Presidente não tem sido hábil na gestão da convulsão social, o que lhe poderá trazer dissabores – como por exemplo não ser no seu mandato a realização dos primeiros Jogos Olímpicos na América do Sul, depois de muitas tentativas.
A.B.



SOBRE A MINHA CRÓNICA DE HOJE NO "CORREIO BEIRÃO".


RUMORES…
…sobretudo a propósito dos números do “nosso descontentamento” que os governantes não desistem de injetar nos incautos eleitores.
         Tudo é possível – dirão uns – enquanto a outros já nada ou quase nada parecerá estranho, particularmente quando já se viu um “porco a andar de bicicleta”. Podemos analisar o caso mais recente dos “rumores” que envolvem o presidente Obama, lançados por um fotógrafo francês que, entretanto, já veio desmentir o boato. Nada que o sensacionalismo e o jornalismo (?) pink desconheçam como forma de aumentar as tiragens. Uma “piada” que, pelos vistos, poderá ficar impune. Mais grave será o caso de, os mesmos rumores, obrigarem o conceituado Washington Post a desmentir que estivesse prestes a publicar a notícia do tal alegado romance de Obama com a cantora Beyoncé. É o vale tudo ou – como diria Maquiavel – os fins justificam os meios. Sempre uma questão de números!
            As exportações, por exemplo. Em 2012 cresceram 5,7%. Em 2013, diz o governo, cresceram 4,6%. Percebem? Depois procura-se explicar a contradição:- afinal, exportou-se menos mas vendeu-se mais! E pronto…ficamos todos felizes com o “abrandamento”!
            E temos também o Maduro. Não o da Venezuela mas o de cá, o do governo! Foi o dito à AR dizer que a RTP tem pessoal a mais. O que não será propriamente uma novidade. A “novidade”, vamos ver, está nos números. Segundo o OBERCOM (Observatório da Comunicação) a RTP tinha, em 2005, mil e cem (1100) trabalhadores. Pois agora e segundo Maduro – não o da Venezuela, mas o de cá, o do governo – a empresa tem 1800 trabalhadores. Isto é, se não tivesse saído nenhum, teriam entrado mais 700 trabalhadores. Mas todos sabemos que saíram alguns. Em 2009, na administração de Guilherme Costa, rescindiram 200 e havia a perspetiva de saírem mais 100.
            Sendo assim, entre os ativos de 2005 e os de 2009 – deveria haver uma diferença de, pelo menos, 200 trabalhadores, o que situaria o número em apenas 900. Se não tivesse sido admitido nenhum, claro! Em 2013, portanto, e já nesta administração de Alberto da Ponte, o número deveria rondar os mil trabalhadores. Contudo e apesar de mais 144 rescisões (num total previsto de 240) o número de trabalhadores passou – de repente! – para 1890 = mil, oitocentos e noventa! É obra! Uma obra desenganada! Haverá quem os perceba? E com a recente “felicidade” de voltar a ver a “dívida” a crescer…com a ida aos “mercados”, veremos se ainda não ultrapassámos o limite dos 130% do PIB.
            São rumores, meus senhores…apenas rumores!
António Bondoso
Jornalista – CP359.
antoniobondoso@gmail.com




2014-02-13


O DIA MUNDIAL DA RÁDIO. 
Terceira celebração em 2014. 
Ainda não morreu...mesmo vista/ouvida pelo prisma tradicional. UMA BOA MADRUGADA...SINTONIZANDO UMA ESTAÇÃO COM GENTE DENTRO.

======E digo eu, numa das páginas do meu Livro em finalização que - por exemplo: 

Foto de A.Bondoso
"(...)Algumas vezes a rádio é um silêncio feliz, mas muitas outras pode ser um ruído profundo, provocador, inquieto e perturbador.
Tudo isto é real nos capítulos do meu livro que vai estando cada vez mais perto, apesar da lentidão com que vou passando para o tal disco rígido as ideias – minhas e dos meus amigos – sobre como foi a rádio e como deveria ser hoje.
A Rádio, para mim, prossegue sendo uma guitarra freneticamente manipulada por Jimmy Hendrix ou docemente acariciada por BB King, das quais podem sair notas de um afro-americano rock de Harlem ou de um afro-americano blues a caminho de Memphis – onde já destruíram a magia da Rua Beale. A rádio e a música de sentimento, a rádio e a voz de protesto, a rádio da memória escrava, a rádio da sensação libertadora.
A Rádio, para mim, vai sendo a memória da magia do microfone, a magia dos sons, a magia do que fica para além do alcance da imaginação, a magia que permanece no estúdio, no “pick-up” que roda em 45 rotações a voz de Franck Sinatra ou um LP/33 de Maria Bethânia, a magia da “fita” onde se gravaram as impressões de uma conversa amena entre Igrejas Caeiro e Aquilino Ribeiro ou entre Fernando Pessa e Almada Negreiros, a magia do “cartucho” onde se alinhavam spots publicitários anunciando as virtudes da brancura do skip ou apelando à presença na Grande Noite do Fado no Coliseu dos Recreios.
E a magia da distância que a onda curta e o transistor resolvem, como estar às portas do deserto entre a Tunísia e a Argélia e poder ouvir as notícias de “casa” ou o relato de um Sporting-Porto em Alvalade...praticamente em cima de um camelo. Ou estar na Ilha de Moçambique, de noite e sem energia eléctrica – à luz de uma vela apenas – e receber as sensações de um outro jogo de futebol no desaparecido Estádio das Antas.
Como dizia o publicitário Bob Schulberg em 1989 – o ano da queda de mitos e muros – “ a televisão não é ruim, mas a Rádio é mágica. Se a televisão tivesse sido inventada antes, a chegada da radiodifusão teria feito as pessoas pensarem:- que maravilhoso que é a Rádio! É como a televisão, só que nem é preciso olhar!”(...). 

Foto de A.Bondoso
António Bondoso
13 de Fevereiro de 2014.