2011-12-29

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !

Agora... que se aproxima 2012, deixo uma pequena - mas avisada - reflexão!

Aqui, em Moimenta da Beira, terra de meus pais e meus avós e de outros antes deles mais avós.

Palavras frias e secas...apenas de leve esperança bordejadas.


O ANO DOZE...NO DEMO.

Quando aqui se queima o Velho
É a esperança que nasce
Repetidamente renovada em noite de quente folia.
Renasce no novo ano toda inteira
Mesmo que os sinais se mostrem
Embuçados, turvos ou difusos
Nos dias frios que precedem a noite louca.
O vento gelado que nos chega
Do Marão a curtir a pele seca,
Prenúncio telúrico de Torga
Ou de Aquilino seu carácter revelado
Teimosamente beirão,
Traz na brisa cortante um certo fado
De perigos em Dezembro esconjurado.
É então que o alto fogo alcança
Do céu os seus limites em Janeiro
Devora decrépita figura engalanada
E apresenta a quem repara
A dúzia deste século embaraçado
Em mortes, fomes e misérias
E em tragédias de comédia anunciado.
========== A.B. 2011 – Moimenta da Beira.

2011-12-17

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !

Cesária Évora – aos 70 – permanece como Património Imaterial da Humanidade !

Não quero, de todo, escrever aqui um vulgar “elogio fúnebre” a uma grande mulher africana. De uma infância difícil até à fama mundial, Cesie – assim chamada pelos amigos – viveu à volta da música. De grandes músicos que o seu país continua a legar a este mundo. Só em Portugal ninguém percebeu o seu valor em 1985. Foi pena ! Ou não... para bem dela e de Cabo Verde.
E numa altura em que o “Fado” foi elevado à categoria de património imaterial da UNESCO, também foi pena que o seu país não houvesse tido a oportunidade e a vontade de atingir esse objectivo com a “morna”. Também foi pena que o “caso” não tivesse sido abordado e assumido – como projecto comum – pela CPLP.
Pode ser que, após cada “derrota”, alguém se lembre de pensar sempre mais à frente !
Cesária partiu para parte incerta... curiosamente uma semana depois de o Prof. Adriano Moreira ter sido distinguido na Universidade do Mindelo como Dr Honoris Causa.

Uma sugestão de missão para a CPLP: --- concertadamente, um doutoramento honoris causa em cada um dos “Oito” para esta “Dama de Pés Descalços”.

2011-12-09

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !


Dobra a finados na Europa. O “eixo” renasce !

Acordo intergovernamental à custa das pessoas sem que elas sejam ouvidas ? Como diria Almada Negreiros “modernista” – Portugal não está no passado nem no presente! Os portugueses não fazem ideia do que seja uma Nação – um conjunto nacional, um pensamento comum, uma vontade unânime e colectiva. A Nação está incompetente para utilizar os valores dos seus cidadãos, não sabe utilizar as suas capacidades.

Aceitamos tudo o que os poderosos nos querem impor.

Sabe-se que a intervenção do BCE seria decisiva para evitar mais recessão na Europa, mas o eixo (onde é que eu já ouvi esta palavra?) impôs as suas teorias e os seus interesses. Por uma vez sou levado a estar com a posição inglesa.

Aquele que tem sido nomeado frequentemente como a “voz da consciência” da economia – Amartya Sen – bem lembrou que a Europa devia esperar pelo momento certo para reduzir a dívida pública.

Por outro lado, é neste cenário complexo e difícil que os 27 decidem passar a 28 – com a adesão da Croácia – um exemplo de virtudes democráticas.

Recordo o “dilema” de Augusto Rogério Leitão, Prof de RI na Universidade de Coimbra : = Ou a União opta por ser fundamentalmente uma Zona de Livre Comércio (…) e as suas fronteiras poderão alargar-se; ou opta por uma união política com maior partilha das soberanias, e as suas fronteiras terão de ser menos extensas.

Tudo ao contrário. Rogério Leitão teme (continua a temer) o divórcio entre os povos europeus e o passo de corrida das elites na construção europeia.

Reparemos na expressão conclusiva que o 1ºM PPC revelou aos jornalistas portugueses:--- O tempo dirá se... o tempo dirá se...

O tempo – esse eterno rival da convicção e da competência !

2011-12-04

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !


O Natal é um reflexo.

De um espelho muito baço ou de um mágico momento?

Nem sempre se descortinam as razões da dúvida, mas é certo que o período natalício tanto projecta alegria, consumismo, felicidade...como realça tristeza, pessimismo, desespero. Paradoxo? Nem por isso. E as culpas da contradição nem sequer podem ser exclusivamente atribuídas ao Pai Natal da Coca-Cola. Já muito antes de terem descoberto a morada mais recente da elegante e veneranda figura de barbas brancas, na Lapónia, se reconheciam sinais de dupla face no que toca a uma época desde sempre desejada como devendo ser de comunhão, de concórdia, de solidariedade. Os cristãos, provavelmente, não terão entendido de imediato o significado da estrela brilhante que havia guiado os Reis Magos ao berço térreo de Belém. A luz destacada no nocturno firmamento da terra prometida poderia ser, afinal, o reflexo de uma Luz solar que marcava o solstício do Inverno – data entendida como oficial pelo imperador Aureliano – a qual passou, assim, a ser festejada pelos cristãos, já não apenas como acontecimento pagão mas também com um sentido moral, de respeito pelo nascimento de Jesus, pelo Sol da Justiça, pela Luz do Mundo. Decorria o ano de 274, mas igualmente se sugere a possibilidade do ano 336. A luz brilhava, mas – não podendo haver certezas num tempo sem computadores, sem internet, sem fibra ótica – houve quem explicasse a data do nascimento de Cristo à luz de uma teoria simbolico-astronómica, na qual se equacionam o dia da Sua conceção e o dia presumido da Sua morte mais os nove meses da gravidez de Nossa Senhora. Refletem-se nesta equação o equinócio da Primavera, a Páscoa judaica a 25 de Março, o dia da criação do mundo e ainda o dia da Encarnação. Esta “incerteza” sobre o dia 25 de Dezembro vem contada num livro de Silva Araújo[1] que lembra ainda a data de 6 de Janeiro na qual, no século IV, o Natal evocava simultaneamente o nascimento de Cristo, a adoração dos Magos e o baptismo de Jesus. Nesse dia, agora já no século XXI, trocam-se prendas em Espanha e cantam-se as Janeiras em Portugal. O que deveria ser importante, sobretudo numa época de crise mundial como a nossa – financeira, económica, ética e de valores morais – seria retermos o simbolismo da mensagem de Cristo, atentos à verdade, à paz, ao diálogo, à amizade, à solidariedade, mas também seriamente preocupados e decididos em enfrentar as causas da pobreza, da desigualdade e da ganância. Poderíamos ter, assim, um espelho menos baço e muitos mais momentos de magia. A luz das estrelas ainda nos pode motivar!

A.B. – Dez 2011.



[1] - Viver o Natal, Livraria Apostolado da Imprensa – Porto, 1987 (2ªedição).

2011-11-27

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !


Morreu Ojukwu, o homem que sonhou a liberdade e um país para o povo Igbo, no sudeste da Nigéria.

Mais de um milhão de mortos, numa guerra religiosa, nacionalista e regada com os interesses do petróleo. De 1967 a Janeiro de 1970.

Fica a minha memória, num poema do livro Seios Ilhéus :


BIAFRA – O SOL PERDIDO

Era um tempo sem futuro

Parecia ser naqueles dias.

A África centro do mundo

Berço da humanidade,

Dividida por milénios

De inveja negócio e morte

Abria as entranhas à sorte

Do genocídio de um povo

Inocente de promessas carente de tudo novo.

Era um tempo sem futuro

Parecia ser naqueles dias.

De uma Nigéria feita à força

Das armas e da mentira

Separou-se um povo Ibo

Da barbárie destemido.

Da Europa e Ocidente só lhe chegavam compressas

A fome foi mais que a guerra

Violenta de sangue a terra.

Era um tempo sem futuro

Parecia ser naqueles dias.

Os homens na selva densa

Separados das mulheres

Dos filhos e dos haveres,

Combatiam com esperança

De ver um Sol de justiça

Queimar a dor submissa

De um Biafra espezinhado.

Era um tempo sem futuro

Parecia ser naqueles dias.

Da Ilha de santo nome fez-se a corrente da paz .

Pelo ar ia a coragem remédio de S.Tomé

Pelo ar vinha a vergonha de quem não era capaz

De travar o holocausto e já se perdera a fé.

Mas levou-se até ao fim essa missão de bandeira

Potências de olhos vendados

Deixaram para as Igrejas tantos trabalhos forçados.

Era um tempo sem futuro

Parecia ser naqueles dias.

Crianças de corpo nada

Pele e alma acorrentados

Traziam a morte nos olhos

Queriam ser acarinhados,

Não percebiam razões

sofrimentos incuráveis

Vegetavam não viviam ao bater dos corações.

Era um tempo sem futuro

Parecia ser naqueles dias.

Mães e filhos pais e netos

Avós da mesma nação

Vítimas de seres inquietos

Mortos por querer um país

Sempre o seu por tradição.

Ou por ser antes do tempo ou antes tarde demais

Um milhão de seres humanos não pode rezar jamais.

Era um tempo sem futuro

Parecia ser naqueles dias.

De tantos anos passados

Memória que já não lembra

Só aviões que não voam cansados de morte lenta

Metralhados ao segundo de vida que se lamenta

Esquecidos esventrados e com mato amortalhados

História feita aos pedaços

À espera de novos passos.

É ainda um tempo sem futuro de crude motivo e ódio

Delta do Níger sangrento

Espero que seja breve…

Talvez nos próximos dias! [1]




[1] - Por ocasião do 40º aniversário do início da “Guerra do Biafra” – 1967.

2011-11-21

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !


Com a devida vénia, publico um texto que me chegou através do Gabinete de Comunicação da C.M. de Moimenta da Beira.

Mãos ágeis, mãos hábeis, mãos mágicas. São as mãos dos artesãos do concelho de Moimenta da Beira que trabalharão ao vivo de 3 a 17 de Dezembro, na I Feira de Artesanato e de Arte Popular que decorrerá no Salão de Exposições do Mercado Municipal de Moimenta da Beira. Se estiver por perto, não perca, de todo! Feira de Artesanato antes do Natal. É a primeira Feira de Artesanato e de Arte Popular que a autarquia organiza. Arranca a 3 de Dezembro e encerra a 17, no Salão de Exposições do Mercado Municipal de Moimenta da Beira. São 15 dias com artesãos do concelho a trabalhar ao vivo. Mais de 30 já se inscreveram. O trabalho artesanal estará sempre à venda. A feira pretende ser uma via de promoção ao artesanato local e, à porta da quadra natalícia, promete dar boas sugestões para as prendas deste Natal.
Aos fins-de-semana a feira funcionará todo o dia. Nos dias úteis estará aberta só à tarde.
No espaço haverá ainda animação musical, realização de workshops, exposição dos trabalhos manufacturados à mão pelos artesãos (cestaria, estanho, madeira, bordados, capuchas, meias e outras artes criativas), pinturas faciais e um Pai Natal que se deixará fotografar com as crianças.
O início e encerramento da feira de artesanato coincidem com as duas próximas edições da Feirinha da Terra. Mais uma oportunidade para apreciar o que de melhor se produz nas hortas e nos campos agrícolas do concelho de Moimenta da Beira.
“É um evento que promete animar este mês de Dezembro”, garante Alexandra Marques, a vereadora do Turismo.

2011-11-17

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !


O "poema" - ou uma historieta poética - que vai o título ao meu próximo livro. Imagens e "sons" imaginados num mundo louco e cavalgante em direcção ao abismo.

UM CAVALO MONTADO NUMA NÚVEM BRANCA...

Vi-o claramente... passe a velocidade do vento

Que empurrava as núvens

Para lá do alcance da minha visão

Balizada por um tríptico de vidro à frente de uma cadeira

De articulado macaense

Onde me reclino para reflectir sobre alguns dos males

Do mundo que vivemos.

Era mesmo um cavalo montado numa núvem branca.

E voava veloz na dianteira do forte vento

Que soprava, para evitar desfazer-se no meio

Do real dilúvio intenso e permanente nessa hora.

Não relinchava...

E provavelmente não se queixava do esforço

E do chuvoso temporal

Pois ia montado numa núvem branca.

Sem cela e sem estribos não dava pinotes

Nem cavalgava...

Deixava-se simplesmente

Arrastar pelo vento que empurrava a núvem branca.

Não sei...talvez ninguém saiba ainda

O que terá acontecido ao cavalo que passou

Montado numa núvem branca

Empurrada pelo vento forte

Do temporal.

Fugiria de alguém?

Tentaria alcançar pelo contrário

Esguia figura e nebulosa?

Não por certo um qualquer D.Sebastião.

Mas no dia seguinte

Com idêntico ângulo de visão

Quase jurava de novo tê-lo visto.

Só que então – qual imagem invertida –

A núvem branca galopava na equídia garupa.

Uma núvem sorridente

Do esforço da véspera bem refeita e sabedora

Do bom que é cavalgar

Alegremente

O indomável espírito da aventura.

O sorriso

Porém

Talvez fosse efeito de razão mais séria

Que uma modesta e irónica encenação.

Um rasto de política conjuntura

Empresta um certo ar de conspiração à novela

Deste veloz cavalo montado numa núvem branca,

A qual por sua vez é agora o cavaleiro

De uma manobra arriscada

Mas com um final sugerido de promessa.

Só cooperando lá chegarão

Avisos que foram tendo em sua devida conta

Na travessia de tão violenta tempestade.

Sem a núvem branca

O cavalo sem crina não teria passado quase incólome

A aventura de tentar conquistar bispos e peões neste xadrêz

De torres fortes já tomadas,

E de uma raínha sem rei

Que a proteja

Num jogo de mistério e bem difícil.

Vencer a batalha final é maior prémio

Por demais custoso e valioso

Deixando ao acaso e pelo caso pormenores

De uma singela táctica da tradicional conquista do poder.

Da alta finança à pobreza é um salto de cavalo

Que os pobres são pessoas de encarneirado estatuto

Sempre atrás de quem preside sempre atrás de quem governa.

A certeza permanente

De um des-controlo doente

Ou qual troça sorridente

De um des-governo saloio.

Sem a ética aparente de uma honra virtual

Vai o cavalo montado numa núvem espessa e branca

Saltando de casa em casa tabuleiro viciado

À procura do sucesso de uma saída imortal.

Enfraquecer o adversário

Objectivo directo que preside e não contempla

Evidentes imprudentes dificuldades acrescidas.

Por isso tal táctica envolve e desenvolve

Inesperadas aparentes e tão ingénuas estratégias

Englobando corridas de económica loucura

E financeiras políticas no combate partidário a destempo.

Qual cavalo qual núvem

De branco já se confundem

Se um não foge nem se esconde

A outra vai-se esfumando.

E nesta síntese de vida

É o pensamento a fluir

Germinando

Dominando

Conquistando além dos sonhos

tão real aparição.

==================

A.B. 2011

2011-10-26

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !


***** Para quem viaja na leveza do sono e dos sonhos dos justos...

DIMENSÃO DO SOM DA CHUVA…

O som da chuva quando cai

Abafa o silêncio dos que vivem.

O bater incerto das gotas

Violentadas pelo vento

Intimida a borboleta de bater as asas simétricas

Privando os olhos despertos dessa magia das cores

Impede a abelha rainha de voar para as flores

Paralisa na raiz o mais simples pensamento

Corta ao poeta o condão de seguir as suas métricas.

A chuva não rima com nada

Coisa alguma isolada .

Mas quando traz tempestade

Grávida de furacões de tornados e tufões

Fruto de violentos amores

Misto de loucas paixões

Consumidas pelos homens,

Não fica pela metade

Põe a razão inundada.

E apesar da inundação

Cheia de sofrimento

A chuva continua a cair

Inventando esse momento

De um pingo grosso medir

O som épico dessa enorme dimensão

Que todo o silêncio tem

Quando a chuva cai raivosa vazia de tudo

Cheia de nada corpo desnudo.

O som da chuva quando cai

Exalta a revolta húmida dos mortos !

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António Bondoso

2007

2011-10-18

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !


Como vamos de Crise ?

Nada bem, como calculam. É pesada, preocupante, pessimista, ... tal como crítica, cruel, criminosa

E num momento em que todos falam de tudo - viva o espaço público alargado - talvez seja acertado ou avisado dar voz a quem, de forma clara, esteja abalizado para tal. Quero crer que, actualmente, isso acontece no dia a dia, quer seja na imprensa, na rádio, nas televisões, nas redes sociais na net. Mas sem retirar mérito aos que nos são - têm sido - próximos, julgo que ainda há espaço para atentarmos em mais algumas opiniões. Independentemente de termos acompanhado o Prós e Contras , na RTP1 e ouvir hoje, na Antena 1, falar de Internacionalização e Competitividade, posso remexer nos meus papeis e encontrar um texto de 2010. Mantém-se muito actual...como veremos:

INTRODUÇÃO

Este trabalho, subordinado ao tema Estratégias de Internacionalização em Tempo de Crise:Ousadia ou Cautelas, deve-se por um lado à actual conjuntura de crise e, por outro, à persistência dos problemas estruturais da economia portuguesa – nomeadamente as tradicionais faltas de competitividade e de produtividade.

Como ultrapassar o problema? – é a genérica questão de partida para este trabalho, procurando-se ainda respostas para outras situações como: só exportar? internacionalizar a produção? Formar consórcios nacionais para competir no estrangeiro? Apenas cooperar com empresas locais para expandir o negócio? Qual a melhor forma de enfrentar os desafios da globalização?Que pilares para uma estratégia nacional?

Dividimos este projecto em três partes, sendo a primeira dedicada ao enquadramento teórico da internacionalização da economia, às suas motivações de uma forma geral nesta era de globalização; um segundo capítulo em que se procura salientar os diversos estágios do processo – desde a exportação (a que dedicamos particular atenção) até ao ponto alto da empresa multinacional ou transnacional. Antes da conclusão, um capítulo especialmente dedicado ao que Michael Porter chama de arma decisiva – a estratégia – quer no plano mundial, quer no plano nacional, dando relevo a casos positivos de algumas empresas portuguesas neste tempo de crise mundial.

I

RAZÕES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO.

“A estratégia de internacionalização corresponde a uma lógica de diversificação geográfica no processo de desenvolvimento da empresa”.

Michael Porter (1986)

A ideia não é exclusiva de Michael Porter. O que ele chama de lógica de diversificação geográfica é comum em qualquer manual de economia. O crescimento e o desenvolvimento de uma empresa – seja ela pequena, média ou grande – numa era global, implica necessariamente uma relação internacionalizada. É até já muito comum dizer-se que, quem não faz parte da economia global, não existe.

António Alexandre da Costa Abrantes, docente na ESTV – Departamento de Gestão – do Instituto Politécnico de Viseu, apresenta duas perspectivas para uma definição de internacionalização: por um lado, tendo em conta as empresas e os mercados onde pretendem actuar, “internacionalização significa a actuação em diferentes nações conduzindo movimentos de factores de produção como tranferências de capital, desenvolvendo projectos em cooperação com parceiros estrangeiros, ou simplesmente comercializando os seus produtos noutros países” – a vulgarmente designada exportação. Já no sentido macro-económico, “internacionalização tem a ver com o conjunto dos fluxos de trocas de matérias-primas, produtos acabados e semi-acabados e serviços, dinheiro, ideias e pessoas, efectuadas entre dois Estados-nação”.

C. Pasco, na sua obra Mercatique et Negociacion Internacionales, apresenta a internacionalização como o desenvolvimento das actividades das empresas em sistemas económicos, políticos e culturais diferentes. E acrescenta que esse desenvolvimento internacional adquire formas variadas, as quais traduzem diferentes graus de apreciação e de ligação aos mercados estrangeiros e também motivações e e objectivos diversificados – conduzindo estes últimos a múltiplas estratégias de internacionalização. Conclui, dizendo que “L’internationalisation est alors un processus, une succession d’étapes permettant à l’entreprise de réaliser un apprentissage progressif des marchés étrangers”.

Sabendo que as razões e motivações da internacionalização se prendem fundamentalmente com a ambição de aumentar o volume de negócios (quer pela pequena dimensão, quer pela saturação dos mercados nacionais, quer ainda pela oportunidade e motivação do líder da empresa), pode concluir-se destas perspectivas que as vantagens ou desvantagens da internacionalização estão relacionadas com um conjunto de externalidades que o hipotético país hóspede pode oferecer. Os médios e grandes empresários procuram sobretudo economias de escala e a redução dos custos de produção.

Mas há outras motivações para a internacionalização, como refere Vitor Corado Simões (1997) citado por Henrique Diz e Sebastião Teixeira em Estratégias de Internacionalização (2005). Vitor Simões sintetiza os motivos em cinco grandes grupos: endógenos – nos quais se destacam ainda a exploração de competências e tecnologias e a diversificação de riscos; características dos mercados – limites internos e percepção de dinamismo dos mercados externos; relacionais – como a resposta a concorrentes, o acompanhamento de movimentos de internacionalização dos clientes e abordagens por empresas estrangeiras; acesso a recursos no exterior – deslocalização devido a custos de produção mais baixos no exterior e acesso a conhecimentos tecnológicos; incentivos governamentais por último – traduzidos em apoios dos governos, do país de origem ou de acolhimento.

Por outro lado e segundo a revista MOCI (1991), para 85% das PME-PMI, a exportação (temática a que dedicaremos particular atenção no capítulo II) é uma dimensão essencial para o desenvolvimento da empresa. A mesma fonte revela que a exportação é uma oportunidade para 15% dos inquiridos; 34% consideram que exportar é uma obrigação e 51% salientam que a exportação é uma escolha estratégica.

Mas Costa Abrantes diz também que pode mesmo acontecer que a internacionalização “deva iniciar-se não pela exportação de bens e serviços mas logo pela aquisição ou criação de uma unidade produtiva no país de destino”. A ideia é baseada nas profundas mudanças que ocorreram nas últimas décadas e referidas por J. Antonio Alonso (1994), nomeadamente:- o protagonismo crescente das pequenas e médias empresas; novas fórmulas institucionais de associação de empresas, mais flexíveis e que permitem um melhor aproveitamento das vantagens competitivas; e ainda o facto de a internacionalização já não ser uma aventura solitária para uma empresa – antes a integração numa rede de acordos inter-empresariais erigidos por cima das fronteiras políticas.

Internacionalizar, acrescenta Costa Abrantes, deixou mesmo de ser uma questão de opção para se tornar num desafio de sobrevivência.

Não sendo a economia uma ciência exacta, como diz o Prof. Fernando Almeida, é preciso ter uma visão do mundo onde estamos ou procuramos inserir-nos. Ao partir para um projecto externo, deve, por isso, ter-se em conta os custos da mão-de-obra, as condições de financiamento e de crédito, as taxas de juro, a flexibilidade da legislação laboral, o sistema de justiça, o sistema de saúde, o clima, a inovação tecnológica, transportes e comunicações, a demografia, o PIB e a estabilidade política.

Deste conjunto de condições técncicas específicas, geográficas, geopolíticas e geo-económicas e de infraestruturas resulta a ideia de que tudo está ligado, como no chamado diamante de Porter. A estratégia (uma arma decisiva para Porter) – não só da empresa como do país – a estrutura e a rivalidade das empresas, as condições de procura, as indústrias de suporte e as condições de factores, tanto no que diz respeito às dotações básicas (recursos naturais e clima) como às dotações adiantadas (a investigação e o conhecimento). Ambas, como se sabe, determinam a quantidade e a qualidade dos produtos que se pretendem colocar no mercado.

II

EVOLUÇÃO DAS ESTRATÉGIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO – SUAS FASES E FORMAS ALTERNATIVAS.

“Uma das principais razões para o fracasso de muitos negócios internacionais é a falta de preparo para enfrentar a complexidade e a incerteza decorrentes da intensa integração mundial”.

Manuel Teixeira (2006)

Manuel Teixeira, director do Centro de Inteligência Textil – CENIT – que desenvolveu o conceito do Homem Transnacional, apresenta quatro opções distintas de internacionalização, de acordo com uma reduzida ou elevada adaptação local (empresa internacional e empresa multinacional/multidoméstica) e também de reduzida ou elevada integração global (empresa global e empresa transnacional). As diferenças estão exactamente na estratégia e no modelo de organização (ver figura anexa 1).

Na empresa Internacional, a estratégia é a “extensão do modelo de negócios e do marketing-mix do país de origem a mercados externos”. A inovação gerada na sede pode permitir reduzir custos e aumentar receitas. O modelo de organização deste tipo de empresa é entendido como uma “federação coordenada, com descentralização de tarefas e responsabilidades”. No entanto, tudo é controlado pela sede.

Na empresa Multinacional, procura-se “desenvolver produtos adequados às preferências dos clientes dos diversos mercados geográficos, isto é, opta por dar resposta às diferenças e exigências locais”. Quanto ao modelo de organização, aparece-nos uma federação com recursos descentralizados e auto-suficientes e com delegação de responsabilidades.

A estratégia da empresa Global assenta no desenvolvimento de “vantagens competitivas, capitalizando nas economias associadas ao desenho normalizado do produto, produção em economias de escala mundiais (liderança no custo), além do controlo centralizado das operações”. A organização apresenta um modelo com um núcleo centralizador, verificando-se um apertado controlo central das actividades que geram valor.

Finalmente, a estratégia da empresa Transnacional é marcada pela integração global e resposta local, assentando o actual desafio em três pressupostos:- “eficiência global como forma de atingir a competitividade global; capacidade de resposta local como forma de atingir a eficiência das operações globais; e o desenvolvimento das inovações, que são entendidas como o resultado de um processo alargado de aprendizagem organizacional que engloba cada elemento da empresa”. O modelo de organização é híbrido – federação descentralizada e uma gestão integrada e interdependente.

Um esquema semelhante é apresentado por Hill (2004) – citado por David Bennett num ensaio para Internacionalização e os Países Emergentes, de Fleury e Fleury (2007) – ao identificar duas dimensões ou condições de negócio importantes:- pressões de custo e pressões por responsividade local, ambas variando de baixas a altas (ver figura anexa 2).

Parece não haver, contudo, um modelo único e paradigmático que possa ser reconhecido como o melhor. Mesmo antes de se atingirem estes níveis da pirâmide da internacionalização, sempre houve alternativas para as empresas. Manuel Teixeira destaca a exportação directa – com a vantagem de maior informação sobre o mercado e maior controlo sobre os canais de distribuição, embora apresente como desvantagens maior dificuldade de penetração inicial e maiores custos de estrutura; e a exportação indirecta – que permite maior facilidade de penetração inicial e menores custos de representação, mas que também propicia um menor controlo e uma menor informação sobre o mercado.

E nesta perspectiva de acesso aos mercados estrangeiros que é a exportação, continua a não afirmar-se um modelo único. O Prof. Fernando Almeida, por ex, considera três grandes grupos:- a exportação Controlada, a Contratada e a Concertada.

Incluindo naturalmente a directa e mais simples no primeiro grupo – com um produto standardizado – Fernando Almeida chama a atenção para a dificuldade em assegurar a qualidade do serviço e fidelizar a clientela. Para além do representante no estrangeiro, do escritório de representação e do Agente, este economista destaca a importância de saber distinguir as vantagens e os riscos entre as hipóteses Sucursal e/ou Filial. Enquanto a primeira é uma extensão da casa-mãe, assumindo esta todas as vantagens e todos os riscos da sucursal, já a filial tem razão jurídica autónoma. É a filial que assume todo o esforço da produção e/ou distribuição – tal como o risco – cabendo à empresa original apenas uma percentagem dos eventuais lucros.

No segundo grupo – a exportação Contratada – Fernando Almeida considera o importador, o concessionário (importador exclusivo) e outros intermediários (proprietários e não proprietários) tais como o mediador, o comissário e o consignatário, refere a especificidade dos escritórios de compra estrangeiros, recorda a antiga utilidade das Sociedades de Gestão para a Exportação e, por último, fala de um tipo de penetração indirecta nos mercados estrangeiros nos quais a exportação directa é difícil ou não é permitida – como é o caso das transferências de tecnologia que podem assumir duas formas: a cedência de patente e a licença.

Relativamente à exportação Concertada, é comum referir a Joint-Venture e o Franchising e a menos conhecida Portagem, atribuindo-se especial atenção aos Agrupamentos de Exportadores – conjuntos de várias empresas exportando em comum e beneficiando de sinergias. Ganham importância no caso particular das PME, sendo fundamental que não haja concorrência, que se verifique homogeneidade no número limitado de participantes, regras de funcionamento bem definidas e um bom entendimento entre os membros do agrupamento.

Mas há também o que se designa por IDE – investimento directo estrangeiro – o qual pode assumir formas de carácter comercial ou industrial, de acordo com Fernando Almeida – como se viu – e também com Costa Abrantes. Este autor cita Rugman e Hodgetsvi para salientar algumas das razões para o IDE, concretamente entrar rapidamente em mercados com forte crescimento ou tirar partido de operações dentro de blocos como a UE – tendencionalmente proteccionistas.

III

ESTRATÉGIAS GLOBAIS E ESTRATÉGIA NACIONAL – EXEMPLOS DE ALGUMAS EMPRESAS PORTUGUESAS.

“Estratégias internacionais ao nível das empresas são ditadas em grande parte pelas vantagens competitivas desenvolvidas por elas em seus países de origem. À medida que crescem e ganham escala em seus países de origem, as organizações desenvolvem competências que se traduzem em vantagens específicas das empresas (DUNNING,1988). Além disso, as estratégias internacionais possuem importantes influências da estrutura do setor e da sua evolução (PORTER,1998). Em indústrias globais, a estrutura do setor, assim como as competências e os recursos desenvolvidos no país de origem, conduzem às opções estratégicas disponíveis às empresas nos mercados internacionais”.

Betânia Tanure, Álvaro B. Cyrino, Érika Penido (2007)

Numa rápida leitura da citação supra, a primeira ideia a retirar poderá ter a ver com a tentação de transportarmos o conteúdo para a situação portuguesa. Pela negativa, naturalmente, já que hoje o pensamento maioritário expresso pelos especialistas e comentadores alinha por estas palavras de Daniel Bessa (2010): “o problema fundamental da economia portuguesa é não ter oferta.[...] A nossa economia tem de ganhar alguma competitividade, ser capaz de vender mais alguma coisa”.

Competitividade, produtividade – exactamente alguns dos problemas elencados na nossa introdução com o objectivo de justificar a oportunidade e a escolha do tema deste trabalho. Explorando os conceitos, vemos que a OIT – Organização Internacional do Trabalho – define produtividade como a relação entre os bens e serviços produzidos e o valor dos recursos utilizados no processo de produção. Competitividade, por sua vez, é apresentada nos manuais como ter maior produtividade que os concorrentes para assegurar a sobrevivência da empresa. E isso só se consegue se aliarmos qualidade à produtividade. Esta, só por si, não resolve o problema da competitividade. Por isso se refere habitualmente a necessidade de inovação, ter capacidade para inovar.

A ideia é visível na mais recente literatura económica que, de acordo com Ana Paula Faria (2009), “reconhece de forma inequívoca que a contínua introdução de inovações tecnológicas e sua difusão pelos vários agentes económicos é um dos principais motores do crescimento económico das empresas e das nações”. Doutorada em Economia pela Universidade de Nottingham e docente na Universidade do Minho, Ana Paula Faria identifica dois temas de particular relevância associados à inovação e aos seus efeitos na actividade económica:- o estudo do processo de adopção e difusão das inovações tecnológicas e o impacto destas na produtividade.

Embora seja fundamental não esquecer a questão do financiamento, o problema é por vezes colocado de forma simples – apenas como uma nova maneira de olhar para as coisas. Ao reflectir sobre como manter o sucesso nos negócios em condições económicas adversas, Patrick Forsyth e Frances Kay escreveram sobre Estratégias Eficazes para Tempos Difíceis (2009). Lembram por exemplo a ajuda que é ter algumas ideias ingénuas, buscando as leis imutáveis do marketing – nomeadamente “é melhor ser o primeiro do que ser o melhor” ou “se não puder ser o primeiro de uma categoria, estabeleça uma categoria nova em que possa ser o primeiro”. Pode ser uma questão de atitude – acrescentam: “pode achar difícil manter uma perspectiva positiva quando está a remar contra a maré. Mas, se tem tendência para fazer afirmações negativas, tente, em vez disso, transformá-las em positivas”.

Os mesmos autores falam ainda da descoberta de novas oportunidades e de alianças estratégicas que, muitas vezes, são a forma de avançar para pequenas e médias organizações. Papel importante desempenha “a cooperação com concorrentes, clientes, fornecedores e companhias que produzem produtos complementares”. Em tempos difíceis, acrescentam, “a cooperação tem mais sentido do que a concorrência”.

Nesta perspectiva, de certa forma, podemos incluir o “Cluster Moda” patrocinado por empresários texteis do Norte de Portugal e da Galiza. Num encontro realizado o mês passado, no Porto, Manuel Teixeira, do CENIT, salientou que “deve ainda existir mais cooperação entre as duas regiões. Elas são complementares, há espaço para projectos com mais profundidade e ambas as regiões têm muito a ganhar uma com a outra”. A ideia resulta de um estudom sobre a “Análise da Indústria Têxtil e Vestuário do Norte de Portugal e da Galiza: Consolidação da Complementaridade do Cluster Transfronteiriço na Euroregião”. Na mesma ocasião foi também apresentada uma base de dados com os players dos dois lados da fronteira, uma ferramenta que Alberto Rocha Guisande, secretário-geral da AIPC – Asociación de Industrias de Punto y Confeccion – diz pretender “identificar os elementos mais dinâmicos de toda a cadeia de valor e fomentar uma cooperação competitiva entre empresas”.

No encontro marcou ainda presença Marco Bettiol, Professor da Universidade Internacional de Veneza e Universidade de Pádua, que salientou a criatividade como o segredo do sucesso para o futuro: “É preciso que a estrutura e a empresa sirvam o empreendedorismo. A empresa tem de ser criada para ser criativa”.

Diremos que, neste ponto, poderá ter início o “ciclo do sucesso”:- criatividade, diferenciação, qualidade, produtividade, competitividade. E para competir nesta era global é fundamental a internacionalização da economia, para a qual o governo aprovou recentemente uma dotação financeira de 250 milhões de euros. Um pacote que prevê a criação de 14 Lojas da Exportação – a primeira das quais foi inaugurada em Leiria no início de Abril. Ali disse o Primeiro Ministro que “precisamos de exportar serviços com mais valor e mais tecnologia, para novos mercados e precisamos de exportar mais”.

Numa altura em que o comércio mundial verifica a maior queda desde a II Guerra – 12% em 2009 – a actividade económica em Portugal recupera muito lentamente, ainda em terreno negativo diz o INE. Apesar de tudo as exportações cresceram 7,6% no início de 2010, destacando o Instituto Nacional de Estatística que não havia variações homólogas positivas no comércio internacional desde Outubro de 2008.

É neste quadro que se anuncia por exemplo a preparação de um novo acordo económico entre Portugal e a Rússia com o objectivo de reverter a redução de 30 por cento nas trocas comerciais em 2009; sabe-se que o sector do calçado ultrapassou o têxtil na batalha da internacionalização, sendo exemplo a empresa Ferreira Avelar e Irmão, de Santa Maria da Feira, com uma facturação de 5 milhões de euros e exportando 97% da sua produção.

E as exportações verificam-se cada vez mais para fora da Europa, com destaque para os PALOP – sobretudo Angola – e para a América do Sul, particularmente a Venezuela.

A Sovena, uma empresa de gorduras alimentares, tem como principais mercados a Tunísia, o Brasil e os Estados Unidos, embora também se destaque a Espanha.

As construtoras portuguesas apostam cada vez mais no estrangeiro, com realce para Angola, Moçambique, Marrocos e Argélia. A África do Norte, sobretudo Argélia e Líbia, e o Médio Oriente – Omã – vão ser apostas da Soares da Costa em 2010.

E a EFACEC pretende crescer nos EUA. O grupo inaugurou recentemente uma unidade de transformadores na Geórgia, onde espera facturar mil milhões de euros até final do ano, e pensa em diversificar as actividades para as áreas do transporte ferroviário, engenharia e energias renováveis.

CONCLUSÃO

“2007-2010: uma profunda crise estrutural, de entranhadas raízes, angustia Portugal; sobrepõe-se-lhe uma crise conjuntural, especialmente no sector financeiro, ligada às convulsões por que atravessa o mundo; por seu turno, dando volta ao globo, as formas da economia e sociedade são abaladas também nas suas estruturas, e o confronto de civilizações põe em causa o rumo da humanidade. [...] Nestas circunstâncias adversas, será bom que ressurjam as inquietações, e não se desista de reflectir na pergunra inevitável: que rumo para Portugal?”

Vitorino M. Godinho (2009)

Uma eventual resposta a esta questão de Vitorino Magalhães Godinho será sempre demasiado complexa, tanto quanto possa dizer respeito à dimensão mundial. Citando um ditado árabe que diz que “Quem pretende prever o futuro está a mentir, mesmo se, por acaso, o que diz se vem a revelar certo” – o economista e actual deputado liberal democrata britânico Vince Cable (2009) salienta que “A extraordinária rapidez com que a crise se desenvolveu e esmagou quem não estava preparado para ela deve sublinhar a necessidade de cuidado na antevisão dos próximos meses, já para não falar dos próximos anos. Talvez seja mais útil pensar em cenários plausíveis em vez de em desenvolvimentos prováveis, e enquadrar quaisquer propostas políticas num espírito de humildade, reconhecendo que ninguém compreende plenamente o que está a acontecer e o modo como o actual drama se desenrolará”.

Mas esta verdade não poderá bloquear decisões e soluções. E embora alguns reconheçam que dar tempo ao tempo pode ser a maneira mais rápida e mais segura, também não deixa de ser interessante a recomendação de Patrick Forsyth e Frances Kay:- não seja cauteloso, seja ousado. Cocretizando, escrevem que “Perceber as raízes da competitividade é a chave para o crescimento e o sucesso em tempos difíceis. A questão com que todos se defrontam é como distinguir o que faz realmente a diferença (no meio de tantos dados, de conselhos não solicitados e de mensagens comerciais competitivas)”. E nesta perspectiva salientam a importância das TIC – tecnologias de informação e comunicação – na competitividade.

Não havendo modelos únicos para situações bem diversas, podemos incluir aqui com plena legitimidade a ideia da economista Helena Marques (2009), docente na Universidade de Manchester, sobre a estratégia de internacionalização da economia portuguesa – a qual deve assentar em três pilares fundamentais: “Primeiro, é necessário identificar o potencial competitito nacional que distinga o país dos seus principais competidores. [...] Segundo, é necessário identificar parceiros comerciais em forte crescimento e com fortes perspectivas de crescimento. [...] Finalmente, a estratégia de internacionalização da economia portuguesa nas duas últimas décadas tem passado pela integração na economia europeia, com implicações para os padrões de comércio externo e especialização internacional de Portugal”.

Fica implícita a necessidade de acompanhar as constantes mutações que, para António José Telo (2010), tornam especialmente complexo e exigente o seu conceito de estratégia nacional: “Penso que uma estratégia nacional é definida no essencial por um conjunto de grandes objectivos nacionais, que tem associados a si as linhas mestras das políticas necessárias para os concretizar, tanto em termos de recursos, como de agentes, alianças e prazos, incluindo a forma de contrariar eventuais oposições”. Sendo um conceito histórico para o autor, tem diferentes leituras em cada momento.

Há ainda a ideia de que conhecimento e comprometimento são ideias-chave do processo de internacionalização, como escreve Yongjiang Shi (2007), da Universidade de Cambridge, e o emergente fenómeno do mundo dos negócios de que nos falam Bruno Henrique Rocha Fernandes e Rene Eugênio Seifert Júnior (2007) – empresas de rápida internacionalização: “Pioneiro na área, Rennie (1993) detectou o fenômono ao analisar o comportamento de um conjunto de empresas australianas, batizadas por ele de born globals, que iniciaram a exportação nos primeiros dois anos de vida, dependiam fortemente dos mercados externos e consideravam o mundo o seu mercado natural”. São os chamados NEI – Novos Empreendimentos Internacionais.

FONTES E BIBLIOGRAFIA

Publicações Periódicas e em Série

Agência Lusa

Agência Financeira

Jornal “i”

Jornal de Notícias

BIBLIOGRAFIA

Monografias

CABLE, Vince. 2009. A Tempestade. A Crise Económica Mundial e o seu Significado. Lisboa: Bizâncio.

FLEURY, Afonso e FLEURY, Maria Tereza Leme (Organizadores). 2007. Internacionalização e os Países Emergentes. São Paulo, Brasil: Editora Atlas.

FORSYTH, Patrick e KAY, Frances. 2009. Estratégias Eficazes Para Tempos Difíceis. Lisboa: Espuma dos Dias, Livros – Gradiva.

GODINHO, Vitorino Magalhães. 2009 (2ª tiragem Fevereiro 2010). Os Problemas de Portugal. Lisboa: Edições Colibri.

LAINS, Pedro (Organizador). 2009. Sem Fronteiras. Os novos horizontes da economia portuguesa. Lisboa: ICS – Imprensa de Ciências Sociais.

PASCO, C. Mercatique et negociacion internacionales.

TEIXEIRA, Sebastião e DIZ, Henrique. Publisher Team.

TELO, Antóio José, CRUZ, António Martins da e VITORINO, António (Coordenação).2010. Pilares da Estratégia Nacional. Lisboa: Edições Prefácio e Instituto da Defesa Nacional.

Sítios da Internet

www.portugaltextil.com

www.ipv.pt/millenium/Millenium_15.htm ( António Alexandre da Costa Abrantes – ESTV, IPV.

www.cotectportugal.pt ( Daniel Bessa )

www.anje.pt/feira/media ( Manuel Teixeira, CENIT – O Homem Transnacional ).